Frederico Menezes |
LIDAR COM A MORTE
Naturalmente
que o fato de se ter conhecimento sobre a imortalidade da alma não significa
insensibilidade, ser desprovido de emoções. A Convivência física, o estar ao
lado no dia-a-dia, a experimentação de momentos em conjunto, o “hábito” do
outro ao lado, tudo isso faz brotar um sentimento de tristeza e saudade em
qualquer criatura. Ainda que tenhamos a convicção do reencontro, essa sensação
é natural. O que difere na postura de quem possui a visão espiritual daquele
que é materialista ou possui idéias muito vagas à respeito da vida após a
morte, é a forma de lidar com a situação. A serenidade que acalma, dulcifica,
ameniza a própria dor da separação temporária da convivência física está de
alguma forma, presente em quem estuda e alicerça o conhecimento espiritual da
vida. O desespero, o medo da definitiva separação, a angústia da incerteza
atormenta os que possuem superficiais reflexos sobre a morte e o morrer.
A morte, fenômeno inevitável da natureza, mereceria
um melhor estudo do homem a fim de que, compreendendo sua realidade pudéssemos
lidar melhor com ela. Como a morte é encarada, particularmente, na cultura
ocidental, ela se assemelha a uma violência da vida contra a vida. Até mesmo o
instinto de sobrevivência se identifica como uma forma de tortura que a
natureza nos teria dotado. O pavor que se expressa nas diversas culturas do
planeta nasce de alguns elementos que necessitam ser revistos.
a) O medo do desconhecido – este é um dos fatores mais contundentes que nos
faz encarar a morte como uma terrível ameaça. Com raras exceções, as religiões
impregnaram suas doutrinas com uma pouca visibilidade à respeito da vida após a
morte. A idéia vaga que é passada pelas religiões mais populares deixa nas
mentes um “que” de dúvida, insegurança, incerteza. O que virá depois? Qual a
minha situação após a morte?
O
Espiritismo estrutura uma gama de conhecimento à respeito da experiência na
vida espiritual, que atua sobre a razão e ainda sustenta sua revelação de vida
imortal em depoimentos trazidos por aqueles que já vivenciaram essa
experiência, por intermédio dos médiuns. A concepção espírita, bem estudada,
nos concede a serenidade, o que é extremamente importante, afinal, o temor de
se tornar algo “despersonalizado”, sem memória, é o “monstro” que acena com o
mergulho no “nada”, no desaparecimento. A ótica apresentada pelo Espiritismo é
aquela que reconforta exatamente por mostrar (e comprovar) que os vínculos
afetivos e referencial dos valores que conhecemos, permanecem. A existência
prossegue, após o desenlace físico, como uma sequência da vida física, numa
edição melhorada.
Após
a morte, não encontramos um mundo bizarro, completamente exótico ou abstrato.
Encontramos objetos e formas de manifestações da vida bem semelhante ao que
temos no mundo material. Nos identificamos conosco mesmos, embora com
características no corpo espiritual, mais ou menos aperfeiçoados. Sim, temos um
corpo após a morte em tudo semelhante a este. O ser após o túmulo não é algo
vago, uma fumaça. Ele é (ou continua a ser) o que é, com razão, consciência,
sentidos, vida. O fato de nos confrontarmos com casas, hospitais, parques,
flores, vestimentas, permanecendo nós mesmos e ainda, em geral, cercados por
outros espíritos que conhecemos na terra como parentes, amigos, irmãos, etc.,
bem representa a previdência divina, evitando maiores traumas ao
recém-desencarnado, auxiliando no reajuste psicológico e emocional da criatura.
Naturalmente, após o período da readaptação, em que nos reacostumamos a vida
livre do espírito e reaprendemos a pensar despojados da maior cota das
referencias da vida física podemos atingir aspectos da vida espiritual que
diferencia-se da existência na terra. Conhecemos outros elementos desconhecidos
no mundo, mas aí já estaremos perfeitamente integrados à realidade espiritual.
A luz, por exemplo, é um elemento que proporciona, na vida imortal, diversas
variações, com belíssimos efeitos não apenas estéticos bem como práticos para a
vida do espírito. A luz a tudo interpenetra e é perfeitamente compreensível a
presença de luz, que na verdade são ondas energéticas e o espírito como todo o
universo, é campo de energia. Bom, mas isso remontaria a um outro livro.
Voltemos ao nosso singelo estudo sobre as causas do terrível medo da morte e a
visão espírita sobre a grande passagem.
Conforme,
ainda, os espíritos revelam, na vida após a sepultura, continuamos com vida
social, vida de relação. A comunicação é elemento universal em qualquer
dimensão. Por mais estranho possa parecer às pessoas afeitas a imaginar a vida
pós morte como algo vago, amorfo, insípido e abstrato, os espíritos,
prosseguindo no além a compartilhar, sentir, amar, conversar e se divertir é
perfeitamente lógico. Não há rupturas na vida. A natureza é pródiga e o
elemento base das almas que é o sentimento de relação, resultante da busca do
amor permanece, com muito mais intensidade, na existência extra-física.
b)
Medo de Sofrer – muitos temem a morte por conta de traumas de consciência. A
própria cultura religiosa, durante milênios, têm estimulado uma visão punitiva
da vida e a presença de um Deus punidor. E durante o triste período medieval
com resquícios ainda na atualidade o temor do inferno junto a cultura do pecado
enfronharam-se na intimidade dos seres, estabelecendo a vivência do pavor pela
autocondenação.
O
amor, a suavidade do orvalho divino que tudo permeia, ficou esquecido. Deus não
possui defeitos humanos e sua solicitude atende-nos em múltiplas necessidades
sempre. Claro que a lei de causa e efeito existe e a noção de responsabilidade
não nos deixa eximir de nossos atos, porém devemos estar atentos que Deus é
misericórdia e podemos, ainda, bem como devemos, trabalhar para uma correção de
caminhos, não nos esquecendo da frase luminosa “o amor cobre a multidão de
pecados”.
c)
Medo Cultural – Os ritos que revestem os velórios e todo o aparato que se
cultua nesses momentos até o chamado “campo santo” gera uma visão pavorosa.
Desde pequeno, nos acostumamos a ver o corpo cadaverizado estirado, inerte,
coberto de flores, com velas postadas estrategicamente ao derredor do caixão, o
choro muitas vezes de desespero, particularmente, quando se encerra o velório e
fecha-se o caixão, tudo isso compõe um quadro duro, nada piedoso e, o que é
pior, nada esperançoso.
d)
Identificação com a matéria – Ora, quando vemos o cadáver no velório, a pele
esbranquiçada, com algodão nas narinas, sem o viço da vida, a imagem choca
exatamente porque, em geral, os seres na terra se identificam profundamente com
o corpo. É como se fôssemos o corpo. Quando este morre, somos imantados a idéia
de que a morte significa que ficaremos frios, sem vida, seremos cadáver. Pior,
colocarão as flores sobre nós, fecharão a tampa da esquife mortuária e a
colocarão, enterrada, no cemitério. É uma idéia sofredora e que não corresponde
à verdade.
Precisamos,
desde já, nos desidentificar com o corpo. Ele é um instrumento e quando se
cadaveriza não somos nós que estamos ali. Na verdade, ali, o ritual, é a
simbologia. Não somos enterrados. Não estamos no caixão. Esta concepção é
importante para auxiliar a entender melhor o processo do que chamamos morte. É
verdade que existem situações muito específicas, em que o espírito após a
morte, possa permanecer atado ao corpo cadaverizado, mas isso é algo muito
específico como em situações extremas tais como suicídio, como mencionamos
(vide o nosso livro: A outra vez em que morri – DPL) ou situações em que os
vínculos físicos são potentes junto a alma extremamente sensual, vulgar,
niilista, materialista. Ainda para esses casos, não falta a misericórdia Divina.
Se buscarmos os valores que transcendem à matéria, desde já, então, tudo será
facilitado. Estaremos voltando para casa. É o retorno ao grande lar. Sei que
pode parecer estranho esta expressão mas creio ser esta uma grande definição à
respeito da morte.
Frederico
Menezes
Texto extraído do livro A Luz da Morte – Ed. DPL
Texto extraído do livro A Luz da Morte – Ed. DPL
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