O DISCÍPULO DE PERTO
Efraim, filho de Atad, tão logo
soube que Jesus se rodeava de pequeno colégio de aprendizes diretos para a
enunciação das Boas Novas, veio apressado em busca de informes precisos.
Divulgava-se, com respeito ao
Messias, toda sorte de comentários.
O povo se mantinha oprimido. Respirava-se, em
toda parte, o clima de dominação. E Jesus curava, consolava, bendizia...
Chegara a transformar água em vinho numa festa de casamento...
Não seria ele o príncipe
esperado, com suficiente poder para redimir o Povo de Deus? Certamente, ao fim
do ministério público, dividiria cargos e prebendas, vantagens e despojos de
subido valor.
Aconselhável, portanto,
disputar-lhe a presença. Ser-lhe-ia discípulo chegado ao coração.
De cabeça inflamada em sonhos de
grandeza terrestre, procurou o Senhor que o recebeu com a bondade de sempre,
embora tisnada de indefinível melancolia.
O Cristo havia entrado vitorioso
em Jerusalém, mas achava-se possuído de imanifesta angústia.
Profunda tristeza
transbordava-lhe do olhar, adivinhando a flagelação e a cruz que se
avizinhavam.
Sereno e afável, pediu a Efraim
lhe abrisse o coração.
– Senhor! – disse o rapaz, ardendo de
idealismo – aceita-me por discípulo, quero seguir-te, igualmente, mas desejo um
lugar mais próximo de teu peito compassivo!... Venho disputar-te o afeto, a
companhia permanente!... Pretendo pertencer-te, de alma e coração...
Jesus sorriu e falou, calmo:
– Tenho muitos seguidores de
longe; aspirarás, porventura, à posição do discípulo de perto?
– Sim, Mestre! – exclamou o
candidato, embriagado de esperança no poder humano – que fazer para conquistar
semelhante glória?
O Divino Amigo, que lhe sondava os recônditos
escaninhos da consciência, esclareceu, pausadamente:
– O aprendiz de longe pode crer e
descrer,abordando a verdade e esquecendo-a, periodicamente, mas o discípulo de
perto empenhará a própria vida na execução da Divina Vontade, permanecendo, dia
e noite, no monte da decisão.
O seguidor de longe provavelmente
entreter-se-á com muitos obstáculos a lhe roubarem a atenção, mas o companheiro
de perto viverá em suprema vigilância.
O de longe sente-se com liberdade
para buscar honrarias e prazeres, misturando-os com as suas vagas esperanças no
Reino de Deus, mas o de perto sofrerá as angústias do serviço sacrificial e
incessante.
O de longe dispõe de recursos
para encolerizar-se e ferir; o de perto armar-se-á, através dos anos, de
inalterável paciência para compreender e ajudar.
O de longe alegará dificuldades
para concentrar-se na oração, experimentando sono e fadiga; o de perto,
contudo, inquietar-se-á pela solução dos trabalhos e caminhará sem cansaço, em
constante vigília.
O de longe respirará em estradas
floridas, demorando-se na jornada quanto deseje; o de perto, porém, muita vez
seguirá comigo pelo atalho espinhoso.
O de longe dar-se-á pressa em
possuir; o de perto, no entanto, encontrará o prazer de dar sem recompensa.
O de longe somente encontra
alegria na prosperidade material; o de perto descobre a divina lição do
sofrimento.
O de longe padecerá muitos melindres;
o de perto encher-se-á de fortaleza para perdoar sempre e recomeçar o esforço
do bem, quantas vezes se fizerem necessárias.
O de longe não cooperará sem
honras; o de perto servirá com humildade, obscuro e feliz.
O de longe adiará os seus
testemunhos de fé e amor perante o Pai; o de perto, entretanto, estará pronto a
aceitar o martírio, em obediência aos Celestes Desígnios, a qualquer momento.
Após longa pausa, fixou em Efraim
os olhos doces e indagou:
– Aceitarás, mesmo assim?
O candidato, algo confundido,
refletiu, refletiu e exclamou:
– Senhor, os teus ensinos me
deslumbram!...
Vou à Casa de Deus agradecer ao
Santo dos Santos e volto, dentro de uma hora, a fim de abraçar-te o sublime
apostolado, sob juramento!...
Jesus aceitou-lhe o amplexo
efusivo e ruidoso, despediu-se dele, sorrindo, mas Efraim, filho de Atad, nunca
mais voltou.
Irmão X
PONTOS E CONTOS
Francisco Candido Xavier
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