Entrevista ao Jornal “O Triângulo Espírita”
Chico Xavier/Emmanuel
Chico Xavier
numa nova fase de sua existência: a vida pública, isto é, p maior contato com
as massas, através do Rádio, da Televisão, da Imprensa, lançamento de livros,
etc.
De algum tempo
a esta parte, não têm sido outra a tônica da vida do nosso companheiro e médium
Chico Xavier.
Dessa forma,
se hoje ele recebe títulos de cidadão de várias cidades brasileiras, se comparece
a Tardes de Autógrafos fazendo lançamento de novos livros mediúnicos, se concede
entrevistas à imprensa, se participa de programas de Televisão, tudo isso, ele
faz com vistas à maior difusão do Espiritismo, da mensagem dos Espíritos.
Sabemos que o
Espiritismo não visa a massificação, todavia, o contato com o povo e,
sobretudo, numa época em que a confusão é geral, as dores são imensas,
constitui uma necessidade imperiosa.
Não se
compreende um médium psicógrafo, principalmente, sem o contato com o povo
atendendo-o em suas necessidades espirituais.
É claro que
isto deve acontecer naturalmente.
Tudo deve ser
natural, espontâneo, a fim de que os Desígnios da Providência se manifestem
conforme as necessidades do momento.
Nesse sentido,
o nosso Chico, desde o seu primeiro programa de Televisão, sempre foi procurado
para conceder entrevistas naturalmente, nada acontecendo por solicitação sua,
ou da Entidade aonde trabalha.
E sempre com
um objetivo: esclarecer o povo, amenizando suas dores pelo consolo, através da
difusão do Espiritismo libertador.
É por isso que
“O TRIÂNGULO ESPÍRITA” destaca, nesta oportunidade, trechos de algumas
ENTREVISTAS concedidas à nossa imprensa espírita e não espírita: “Diário do Povo”,
de Campinas, do dia 29 de julho; “Folha Espírita”, de agosto, e “DN Cultura”,
de agosto, todos deste ano.
A NECESSIDADE
DA ESPECIALIZAÇÃO MEDIÚNICA
Na presente
entrevista, nosso irmão-médium Chico Xavier, mais uma vez, volta a falar sobre
a necessidade da especialização mediúnica como base de melhor rendimento
doutrinário. E o faz, sem dúvida alguma, com base nos ensinos de seu Guia
Espiritual Emmanuel, que, em “O CONSOLADOR” – FEB, assim aborda o assunto:
Pergunta 388 –
Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar, igualmente, os imperativos da
especialização?
-O homem enciclopédico, em faculdade, ainda não
aprendeu, senão em gérmen nas organizações geniais que raramente surgem na
Terra, e temos de considerar que a mediunidade somente agora começa a aparecer
no conjunto de atributos do homem transcendente.
A
especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de sua compreensão
poderá nascer a harmonia na grande obra de divulgação da verdade a realizar.
Esta é a
resposta de Emmanuel.
Todavia,
alguém poderia argumentar que o próprio Chico possui várias faculdades mediúnicas.
É certo que
nosso irmão já demonstrou possuir outras faculdades, todavia, é justo considerar,
igualmente, que a psicografia é a sua especialização e que as demais são a
serviço da mensagem, coadjuvando-a, auxiliando-a, secundando-a.
Agora, vamos
as respostas de nosso irmão.
ESPECIALIZAÇÃO
MEDIÚNICA
-O Senhor
teria a oportunidade de receber páginas musicais?
-Este assunto já foi abordado certa vez e o nosso
Emmanuel nos disse que esta possibilidade existe.
Por uma
questão de especialização, enquanto eu possa, devo me deter na psicografia,
deixando a outros médiuns esta parte para que a mediunidade, no meu caso,
dependendo de muito tempo, para render maior trabalho espiritual.
-Qual o futuro
do Espiritismo Cristão no Brasil, ao seu ver?
-Os espíritos Amigos sempre nos dizem que o Brasil
está destinado a grandes realizações na vivência do Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Deste modo, é de esperar que tenhamos no Brasil a
civilização cristã do futuro, sem qualquer menosprezo a outras nações igualmente
cristãs.
Mas, sendo o Evangelho de Cristo, especialmente
uma norma de vida, no Brasil esta norma vem sendo observada nos procedimentos
de vida de seu povo, que procura cultuar a fraternidade cristã, com assistência
recíproca, com a paz e com a segurança de rodos, cada vez mais.
-O senhor
poderia tecer considerações sobre o chamado “baixo Espiritismo”, comparando-o
com aquele que é um dos seguidores?
-Nós estamos ligados à interpretação Kardequiana
do Evangelho e da Vida.
Dentro desta escola, nós nos sentimos na condição
de alunos, matriculados numa faculdade de libertação espiritual, com a bênção
de Jesus Cristo.
Não podemos julgar os nossos irmãos, de outros
setores de atividades mediúnicas ou religiosas, porque compreendemos que a
mediunidade é atributo de todos.
Muitas vezes, um companheiro doente, simplesmente
doente, é um médium que se encontra psiquicamente enfermo, sem possibilidade de
entendimento da sua própria situação.
Nós entendemos, também, que, na Vida Espiritual
imediata, temos milhares de criaturas que, tanto quanto nós, não conseguem se
alterar de um dia para outro.
Por isso mesmo, continuam com a vida espiritual
que possuem aqui no Mundo Físico, diante de horizontes infinitos que se abrem
para nós todos, no sentido de trabalhar pelo nosso próprio aperfeiçoamento.
Não compreendo, lugar algum, em religião alguma,
que haja planos mais baixos ou mais altos.
Entendo que todos nós somos irmãos em humanidade,
porque todos somos filhos de Deus, devendo ser respeitados nas idéias que
tenhamos a respeito de Deus.
Se um irmão nosso adora determinada pedra como
sendo um objeto divino, devo, pelo menos de minha parte, em meu setor pessoal
de comportamento, respeitar este companheiro, porque ele está realizando,
dentro dele mesmo a respeito de Deus, o que possui de melhor.
Mas isso não impede que tenhamos na Doutrina
codificada por Allan Kardec, um campo imenso de iluminação espiritual que está
aberto a nós todos e que nos convida à libertação espiritual através do
cumprimento dos nossos deveres.
Ele ensina que a nossa liberdade tem o tamanho do
nosso dever cumprido de uns para com os outros, sempre sob a Liz dos
ensinamentos de Jesus Cristo e dos Evangelhos que Ele nos legou.
PSICANÁLISE E
EVANGELHO
-Chico, a
Psicanálise cura?
-Benfeitores espirituais comumente nos asseveram
que a Psicanálise é uma Ciência das mais respeitáveis na orientação do
comportamento humano, esperando-se, no entanto, que venha a se enriquecer de
valores espirituais sempre mais altos para o estabelecimento de motivações
nobilitantes para a vida, em favor de quantos lhe recorrem à intervenção e aos
ensinos.
Afirmam, ainda, que aguardam isso, porque não será
justo despir a nossa alma de todos os recursos do mundo externo, dos quais nos
valemos para angariar os patrimônios da Vida Imortal do espírito.
Cremos que o espírito, analisado para deixar todas
as crenças ou ideais que haja esposado, mesmo em caráter transitório na
existência terrestre, precisa substituir esses mesmos ingredientes de que se vê
desposado, por outros que lhe garantam a alegria e o interesse de viver.
Portanto, acreditamos que um tratamento de saúde,
qualquer que seja, deve visar a nossa própria melhoria, no capítulo do bom,
ânimo e da autoconfiança, a fim de que nossa vida alcance o máximo no
rendimento do bem de todos. (Neste ponto ele relê em voz alta o que anotara,
faz-me uma pergunta e em seguida acrescenta: - “A vida também precisa de ilusão. Se a tiramos de alguém, então temos
que encontrar um substituto”).
-O Freudismo
nega que haja correlação de causa e efeito entre o sofrimento mental e causas
morais. Ocorrerá algum dia a esperada fusão entre Freudismo e Cristianismo?
-Estamos convencidos, com os ensinamentos dos
Instrutores espirituais, que o sofrimento mental, decorrendo habitualmente do
complexo culposo, remanesce de causas morais mantidas por nós mesmos na
intimidade do próprio ser.
O Universo é regido por forças morais
inderrogáveis.
Não posso decepar o meu próprio braço num momento
de insânia sem sofrer as conseqüências de minha própria irreflexão.
Causas morais e sofrimentos mentais, criando provações
no campo físico se interligam naturalmente em todos os fenômenos da vida, sem
que possamos eleger esse assunto à conta de irresponsabilidade ou indiferença,
o que seria subverter a ordem que preside a Vida Universal.
Cremos sinceramente que o Cristianismo,
especialmente interpretado nas explicações simples e claras da Doutrina
Espírita, iluminará todo o território do Freudismo, abrindo novos caminhos para
a harmonia e felicidade na vida comunitária.
A MULHER E O
SEXO
Chico Xavier
relê em voz alta e pausada o que estava no papel. Indaga da minha opinião sobre
cada uma das respostas e lhe respondo:
-Boa parte do que aí este é novidade para mim.
Chico retoma a
palavra:
-“Peço licença aos presentes (éramos cinco ou seis
pessoas presentes à entrevista, os de sua equipe e o repórter), para tocar num
assunto muito debatido e causa de muito sofrimento no mundo de hoje: Os
problemas do sexo com seu cortejo de desencontros, infidelidade, distorções e
anomalias”.
Reproduzo a
seguir, de memória, o que o inigualável médium afirmou com segurança e clareza
nesta ocasião.
Se as palavras
de que se valeu não foram exatamente estas, o sentido do que disse é absolutamente
fiel, isto é, sem distorções.
Depois de
indagar do repórter se eu era médico, (duas vezes Chico Xavier me endereçou a
mesma pergunta), e diante de minha negativa, ele prossegue:
-O sexo foi criado por Deus para ser, além do ato
procriativo, motivo de prazer e de alegria para os seres humanos.
Nada há nele de vergonhoso ou menos nobre.
... Sabemos o que aconteceu: durante séculos as
manifestações sexuais estiveram refreadas dentro de um círculo muito restrito,
por alguns que tinham interesse na repressão de suas expressões e anseios. Isto
foi possível até certo tempo; passado este se deu a grande explosão.
Súbito, as antigas barreiras foram derrubadas,
muitos tabus e proibições afundaram na avalanche e, então, o diâmetro do
círculo aumentou largamente. (Neste ponto, Chico Xavier toma um lápis e
desenha dois círculos: um com dois centímetros de diâmetro e outro, por fora
deste, com seis centímetros de diâmetro).
Que aconteceu depois?
Séculos de repressão psicológica muito rígida
redundaram numa libertação que ultrapassou os limites mesmo deste círculo mais
amplo (Chico Xavier risca linhas paralelas que transpõem os limites do círculo
maior) e atingiu o terreno dos extremismos sempre perigosos e potencialmente
causadores de grandes males no futuro.
CASAMENTO E
DISTROÇÕES
Alguém
pergunta:
-E o sexo no
casamento?
Chico Xavier
retoma o lápis e desenha um retângulo irregular, cobre-o com lápis preto e
prossegue:
-Que acontece em muitos casamentos?
Derivando para a disputa de muitas profissões que
estão em desacordo com sua principal função, que é a maternidade, a mulher já
não entrevê no lar o ponto mais alto de sua missão.
Ela passou a disputar com o homem o lugar deste em
quase todas as profissões.
Conseguiu impor-se em igualdade de condições
porque a mulher em nada é inferior ao seu companheiro masculino.
Muitas vezes, tem logrado mesmo sobrepujar a este.
Mas qual foi o resultado disto?
Regressando à noite para casa, o homem que
trabalha encontra não a esposa que o acolhe e reconforta das canseiras,
obstáculos e asperezas do dia, mas, sim, UM COMPANHEIRO CANSADO (o grifo é
nosso), em nada disposto a integrar-se no
papel de esposa e rainha do lar.
Então, o esposo, dependendo de suas inclinações ou
receptividades, pode passar horas e horas bebericando num bar, ou procurando
fora de casa o afeto e acolhimento que não encontra junto à companheira que
Deus lhe deu.
Outras vezes, por obediência a princípios morais
rígidos, recusa-se a buscar lenitivo na bebida ou em outras mulheres, mesmo
porque em relação extraconjugais pode resultar agressões ao marido enganado,
depois gastos com advogados, etc.
Vamos dizer que lá pelas tantas ele se depara com
outro esposo com idêntico problema dentro do lar e se tornam amigos.
Passam a encontra-se amiúde, fazem passeios,
caminham distâncias, podendo consolidar-se entre os dois um afeto que resulte
inclusive em homossexualismo.
Chico ergue a
cabeça, encara os presente e conclui:
-A culpa da situação, no caso, cabe à mulher que
trocou a segurança do lar pelo sucesso profissional.
Tangida pelo exemplo de tantas outras que fazem o
mesmo, o lar transformou-se para ela em lugar de descanso da luta que mantém lá
fora para realizar-se, trocando o principal pelo secundário.
A permissividade e os excessos do sexo
prosseguirão por um período de ainda duzentos anos.
RADIOGRAFIA
DAS DOENÇAS MENTAIS
-Chico, a que
se atribui na atualidade o crescente aumento das doenças mentais?
-Segundo nossos Benfeitores Espirituais, que se
manifestam por nosso intermédio, estamos sofrendo na Terra grande conflito em
razão de nossa inadaptação à era tecnológica que, nós mesmos, os habitantes do
Planeta, criamos sob a inspiração da Vida Mais Alta.
Avançando a Ciência a passos largos e estando
nosso sentimento na retaguarda do progresso intelectual, somos hoje intimados a
trabalho imenso de aprimoramento tecnológico, com amor e compreensão de nossas
responsabilidades e no respeito que devemos uns aos outros.
O DOENTE
MENTAL NO LAR
-Qual seria o
melhor comportamento da família com um dos seus integrantes que surja em
desequilíbrio mental?
-Naturalmente, quando temos conosco no recinto
doméstico alguém portando desequilíbrio mental, somos devedores a esse alguém
do máximo de carinho na obra de assistência familiar.
Tanto quanto possível é importante conservarmos os
nossos companheiros, portadores de doença mental, no campo da família, evitando
a ausência deles, de vez que na base do tratamento das doenças mentais está o
amor.
O amor que estabelece prodígios na vida de cada um
de nós.
REVISÃO DA
ROTULAGEM DAS DOENÇAS MENTAIS
-Os
Benfeitores espirituais consideram plenamente aceitável o tratamento dispensado
pela Psiquiatria aos doentes que a ela recorrem?
-Amigos nossos da Vida Maior expressam-se
comumente sobre o assunto e asseveram que a Psiquiatria, tanto quanto a
Psicologia e a Análise, são caminhos da Ciência que estão sendo proporcionados
a nós outros na humanidade para a libertação dos desequilíbrios mentais, tanto
quanto possível.
Afirmam que o progresso da Psiquiatria seja a
criação de tensiolíticos ou neurolépticos ou para o alívio ou a cura mesmo das
enfermidades mentais, é muito grande e devem prestigiar ao máximo os domínios
da Psiquiatria, neste sentido, embora reconheçam amigos nossos, dentre os quais
destacamos o nosso benfeitor, Dr. Bezerra de Menezes, que é de opinião que a
rotulagem das doenças mentais deveria sofrer uma revisão da parte dos senhores
médicos e cientistas, neste capítulo da Patologia, porque a maioria dos doentes
mentais está lúcida.
O nosso irmão que sofre desequilíbrios mentais
comprovados tem, por vezes, um teor muito grande de lucidez e conhecimento do
diagnóstico com respeito à moléstia de que o doente é portador, pode criar uma
fixação mental no próprio enfermo, inibindo o êxito do processo terapêutico.
Nesse sentido, o Dr. Bezerra de Menezes acredita que a Ciência, no futuro, com
o amparo da administração dispensará aos nossos irmãos que se encontram em
segregação carcerária, determinados medicamentos que possam frenar neles os
impulsos de agressividade exagerada, melhorando, mas de muito, o problema de
contenção em nossos hospitais-do-espírito, que são as prisões.
A ESQUIZOFRENIA
E SUA ORIGEM ESPIRITUAL
-Por que razão
a esquizofrenia surge na idade infantil ou mesmo depois da puberdade, quando a
vida da criança começa a desabrochar em plenitude de esperança doméstica?
- A esquizofrenia, na essência decorre de
transformação de caráter negativo no quimismo da vida cerebral.
Esse problema, no entanto, procede da Vida
Espiritual.
Antes do processo reencarnatório; transferimos
conosco para o Mundo Espiritual o problema da culpa que tenhamos instalado
dentro de nós.
Muitas vezes sofremos condições de vida que
podemos chamar de vida purgatorial no Outro Mundo, mas somos devolvidos à Terra
mesmo, aos núcleos habitacionais em que as nossas culpas foram adquiridas e
muitas vezes trazemos conosco o problema da esquizofrenia.
Quando o processo de esquizofrenia está muito
violento, ele se manifesta na própria criança, mas, na maioria dos casos, a
esquizofrenia aparece depois da puberdade ou logo após a maioridade física da
criatura.
É um problema decorrente de nossos débitos no
campo espiritual de nossas vidas.
DIRRITMIA
CEREBRAL: MEDIUNIDADE E OBSESSÃO
-Existiria na
opinião dos Amigos Espirituais, alguma correlação entre disritmia cerebral e
mediunidade?
-Estamos na certeza de que o futuro dirá, do ponto
de vista científico, que sim.
A camada disritmia cerebral, na maioria dos casos,
funciona como sendo um implemento de fixação de onda do espírito comunicante.
Muitas vezes também a mesma disritmia cerebral
está no processo obsessivo.
São questões que o futuro nos mostrará em sua
amplitude, com as chaves necessárias para a solução do problema.
(O Triângulo
Espírita – Uberaba, Minas, 10 de setembro de 1974).
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