ACERCA DO ESPIRITISMO
I
Confiai na bondade
de Deus e sede bastante clarividentes para perceberdes os preparativos da nova
vida que ele vos destina.
Não vos será dado,
é certo, gozá-la nesta existência; porém, não sereis ditosos, se não tornardes
a viver neste globo, por poderdes considerar do alto que a obra, que houverdes
começado, se desenvolve sob as vossas vistas?
Couraçai-vos de fé
firme e inabalável contra os obstáculos que, ao que parece, hão de levantar-se
contra o edifício cujos fundamentos pondes. São sólidas as bases em que ele
assenta: a primeira pedra colocou-a o Cristo. Coragem, pois, arquitetos do divino
Mestre! Trabalhai, construi! Deus vos coroará a obra.
Mas, lembrai-vos
bem de que o Cristo renega, como seu discípulo, todo aquele que só nos lábios
tem a caridade.
Não basta crer; é
preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância e de desinteresse,
sem o que estéril será a vossa fé.
Santo Agostinho.
III
Penso que o
Espiritismo é um estudo todo filosófico das causas secretas dos movimentos
interiores da alma, até agora nada ou pouco definidos.
Explica, mais do
que desvenda, horizontes novos.
A reencarnação e
as provas, sofridas antes de atingir o Espírito a meta suprema, não são
revelações, porém uma confirmação importante. Tocam-me ao vivo as verdades que por
esse meio são postas em foco. Digo intencionalmente — meio — porquanto, a meu ver, o
Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira.
Está toda por criar-se
a preocupação das questões morais. Discute-se a política, que agita os
interesses gerais;
discutem-se os interesses particulares; o ataque ou a defesa das
personalidades apaixonam; os sistemas têm seus partidários e seus detratores. Entretanto,
as verdades morais, as que são o pão da alma, o pão de vida, ficam abandonadas sob
o pó que os séculos hão acumulado.
Aos olhos das
multidões, todos os aperfeiçoamentos são úteis, exceto o da alma. Sua educação,
sua elevação não passam de quimeras, próprias, quando muito, para ocupar os
lazeres dos padres, dos poetas, das mulheres, quer como moda, quer como ensino.
Ressuscitando o espiritualismo,
o Espiritismo restituirá à sociedade o surto, que a uns dará a dignidade
interior, a outros a resignação, a todos a necessidade de se elevarem para o
Ente supremo, olvidado e desconhecido pelas suas ingratas criaturas.
J. J. Rousseau.
VI
Não vos arreceeis
de certos obstáculos, de certas controvérsias.
A ninguém
atormenteis com qualquer insistência. Aos incrédulos, a persuasão não virá,
senão pelo vosso desinteresse, senão pela vossa tolerância e pela vossa
caridade para com todos, sem exceção.
Guardai-vos,
sobretudo, de violar a opinião, mesmo por palavras, ou por demonstrações
públicas. Quanto mais modestos fordes, tanto mais conseguireis tornar-vos
apreciados. Nenhum móvel pessoal vos faça agir e encontrareis nas vossas consciências
uma força de atração que só o bem proporciona.
Por ordem de Deus,
os Espíritos trabalham pelo progresso de todos, sem exceção. Fazei o mesmo, vós
outros, espíritas.
São Luís.
IX
Venho, eu, vosso
Salvador e vosso juiz; venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel;
venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como
outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina
a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que
levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em feixes o
bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis!
Mas, ingratos, os
homens se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e se
perderam nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça
humana; quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos,
porém, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo
a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não
existem ainda se faça ouvir, clamando-vos: Orai e crede! por isso que a morte é
a ressurreição, e a vida — a prova escolhida, durante a qual, cultivadas, as
vossas virtudes têm que crescer e desenvolver-se como o cedro.
Crede nas vozes
que vos respondem: são as próprias almas dos que evocais. Só muito raramente me
comunico. Meus amigos, os que hão assistido à minha vida e à minha morte são os
intérpretes divinos das vontades de meu Pai.
Homens fracos, que
acreditais no erro das vossas inteligências obscuras, não apagueis o facho que
a clemência divina vos coloca nas mãos, para vos clarear a estrada e reconduzir-vos,
filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Em verdade vos
digo: crede na diversidade, na multiplicidade
dos Espíritos que vos
cercam. Estou infinitamente
tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza,
para deixar de estender mão protetora aos infelizes transviados que, vendo o
céu, caem no abismo do erro. Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas;
não mistureis o joio com o bom grão, os sistemas com as verdades.
Espíritas!
amai-vos, eis o primeiro ensino; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades
se encontram no Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se
enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgais o nada, vos clamam vozes:
Irmãos! nada perece; Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da
impiedade.
Nota. Esta comunicação, obtida
por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, foi assinada com um
nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão sob todas as reservas,
tão grande seria o insigne favor da sua autenticidade e
porque dele se há muitas vezes abusado demais, em comunicações
evidentemente apócrifas. Esse nome é o de Jesus de Nazaré. De
modo algum duvidamos de que ele possa manifestar-se; mas, se os Espíritos
verdadeiramente superiores não o fazem, senão em circunstâncias excepcionais, a
razão nos inibe de acreditar que o Espírito por excelência puro responda ao
chamado do primeiro que apareça. Em todo caso, haveria profanação, no se lhe atribuir
uma linguagem indigna dele.
Por estas
considerações, é que nos temos abstido sempre de
publicar o que traga esse nome. E julgamos que ninguém será circunspecto
em excesso no tocante a publicações deste gênero, que apenas para o
amor-próprio têm autenticidade e cujo menor inconveniente é fornecer armas aos
adversários do Espiritismo.
Como já dissemos,
quanto mais elevados são os Espíritos na hierarquia, com tanto mais
desconfiança devem os seus nomes ser acolhidos nos ditados. Fora mister ser
dotado de bem grande dose de orgulho, para poder alguém vangloriar-se de ter o privilégio
das comunicações por eles dadas e considerar-se digno de com eles confabular,
como com os que lhe são iguais.
Na comunicação
acima apenas uma coisa reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem
e das idéias, deixando que cada um julgue por si mesmo se aquele de quem ela
traz o nome não a renegaria.
XII
Deus me encarregou
de desempenhar uma missão junto dos crentes a quem ele favorece com o
mediunato. Quanto mais graça recebem eles do Altíssimo, mais perigos correm e
tanto maiores são esses perigos, quando se originam dos favores mesmos que Deus
lhes concede.
As faculdades de
que gozam os médiuns lhes granjeiam os elogios dos homens. As felicitações, as
adulações, eis, para eles, o escolho. Rápido esquecem a anterior incapacidade que
lhes devia estar sempre presente à lembrança. Fazem mais: o que só devem a Deus
atribuem-no a seus próprios méritos. Que acontece então? Os bons Espíritos os
abandonam, eles se tornam joguete dos maus e ficam sem bússola para se guiarem.
Quanto mais capazes se tornam, mais impelidos são a se atribuírem um mérito que
lhes não pertence, até que Deus os puna, afinal, retirando-lhes uma faculdade
que, desde então, somente fatal lhes pode ser.
Nunca me cansarei
de recomendar-vos que vos confieis ao vosso anjo guardião, para que vos ajude a
estar sempre em guarda contra o vosso mais cruel inimigo, que é o orgulho.
Lembrai-vos bem,
vós que tendes a ventura de ser intérpretes dos Espíritos para os homens, de
que severamente punidos sereis, porque mais favorecidos fostes.
Espero que esta
comunicação produza frutos e desejo que ela possa ajudar os médiuns a se terem
em guarda contra o escolho que os faria naufragar. Esse escolho, já o disse, é
o orgulho.
Joana d‘Arc.
CAPÍTULO
XXXI
Dissertações
espíritas
O
LIVRO DOS MÉDIUNS – ALLAN kARDEC
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