quarta-feira, 2 de agosto de 2017


QUESTÃO MODERNA

 

Os quatros mensageiros da Esfera Superior, antes da vinda à Terra em missão educadora e reconfortativa, ouviram claramente as palavras do sábio orientador que os dirigia:

- Filhos, guardareis em tudo e com todos a nobreza de nossos princípios.

Onde estiverdes, habilitai-vos a falar com segurança e a estender mãos limpas, a fim de ajudar.

Defendei a simplicidade e a pureza da doutrina renovadora de que sois emissários. Não a maculeis com inovações que se lhe façam incompatíveis com a essência de luz!” Não mistureis o joio com o trigo, nem a mentira com a verdade...

Em todas as circunstâncias, recordai que sois enviados a servir!...

A diminuta caravana partiu de luminoso caminho no rumo da Terra e, em ponto determinado, os quatro componentes se separaram com a promessa de reencontro, no mesmo sítio, vinte meses depois.

Findo esse tempo, ei-los de retorno para o entendimento afetivo.

Vinham, no entanto, fatigados, desiludidos...

O primeiro falou:

- Estou cansado de lutar. A comunidade a que me coube prestar concurso é constituída por classes que se tiranizam entre si. O orgulho arrasa-lhes a força moral e os preconceitos de raça consomem-lhes as melhores aspirações de raça consomem-lhes as melhores aspirações de fraternidade. Nada pude fazer. Sem dúvida, acreditam no Cristo e reverenciam-lhe o Evangelho; contudo, em vista do que exponho, não creio possam receber a nossa cooperação e guardar nobreza de princípios.

Disse o segundo:

- Onde estive, encontrei somente a paixão pela fortuna terrestre. As criaturas aceitam a Doutrina Cristã e falam nela, respectivamente, uma vez por semana; entretanto, imobilizam a mente em questões de dinheiro... Trabalham, sofrem e desencarnam quase que unicamente por isso... Volto desalentado porque não admito consigam, assim, amar a Deus e a Humanidade, levantando mãos limpas...

Explicou-se o terceiro:

- Vi apenas religiosos fanáticos por onde passei. Vaidosos das letras que entesouraram, acreditam nas Divinas Escrituras, mas formam grupos de intolerâncias entre si e combatem qualquer pessoa que não interprete os ensinamentos do Senhor à maneira deles...

Desisti de ajudá-los, de vez que não os suponho capazes de mostrar coração humilde e simples na Obra do Mestre!...

Por fim, queixou-se o último:

- Não trago também outra coisa que não seja amargura e desencanto. Nas regiões que visitei, pude tomar contacto com milhares de irmãos que veneram Jesus, mas em meio de entidades menos evolvidas, cuja visão não vai além de vantagens e gratificações da existência material. Essas pessoas, segundo deduzi, não aspiram a outra atividade espiritual que não seja o intercâmbio mediúnico em bases de interesse rasteiro e misticismo primitivista. Não compreendo como conseguiram aceitar-nos a colaboração, sem fazer inovações desaconselháveis, na seara do Cristo de Deus.

Mesclando lamentação e censura, entraram em prece, apelando para o discernimento do mentor que os despachara, e, depois de alguns minutos, o experiente amigo se fez visível, considerando, após ouví-los:

- Meus filhos, viestes cooperar no trabalho urgente do Evangelho ou sois partes do problema de Jesus? Devemos guardar nobreza de princípios, movimentar mãos limpas, conservar simplicidade e evitar inconveniências na construção do Reino do Senhor, mas, sem dúvida, instruindo os nossos companheiros da Humanidade par que façam o mesmo, através de paciência, esforço, boa palavra e exemplo edificante. Que dizer do médico decidido a fugir do enfermo que lhe espera os cuidados, sob a desculpa de que o irmão necessitado é portador de doença? Saberemos nós algo de útil sem que alguém nos haja ensinado? A evangelização é empresa de amor. Como reclamar virtudes alheias sem ajudar a levantá-las? Onde nos será possível encontrar aperfeiçoamento e renovação sem que nos disponhamos a servir? E não será para servir melhor que o Senhor nos auxilia e nos induz a melhor conhecer? Retomemos as nossas obrigações e sejamos fiéis!...

Calou-se o orientador e, percebendo que ele se aprestava a partir, de regresso à Espiritualidade Maior, um dos tarefeiros inquiriu, aflitivamente:

- Generoso amigo, uma palavra a mais!... Sintetizai para nós alguma derradeira advertência que nos possa manter o raciocínio claro na ação justa!... Socorrei-nos!...

Deixai-nos um conselho, uma frase que nos sirva de luz na hora da indecisão!...

O mentor fixou, de maneira expressiva, a reduzida assembleia e concluiu:

- Ah! meus filhos!... meus filhos!... Somos chamados a desenvolver a sementeira e a colheita do Evangelho, onde a sementeira e a colheita do Evangelho se encontrem!... Em verdade, pouco podeis contra a escuridão do materialismo, quando a escuridão do materialismo animaliza as criaturas... Estejamos, porém, convencidos de que, onde esse ou aquele grupo humano demonstre sinceridade e boa consciência, qualquer serviço por Jesus e em nome de Jesus será sempre melhor do que nada.

 

Estante da vida, irmão X, psicografia de Chico Xavier.

 

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