A porta abre-se
Por um
instante o nosso silêncio ainda se apóia num certo pasmo. Emmanuel atende... O
guia, o espírito do “médium” abre-nos pois uma concessão?
Enfim a porta
abrira-se.
Tudo foi tão
imprevisto que, em verdade, ainda nem tínhamos preparado as nossas perguntas.
Apenas, meia hora antes, ao sairmos do hotel, havíamos grafado um rascunho de
indagações gerais com que pretendíamos compor as perguntas. Mas não se podia
hesitar.
José Cândido
ocupa ràpidamente o lugar ao lado do “médium”. Pede que façamos a nossa consulta.
O promotor Albuquerque faz um sinal ao jornalista este tira do bolso uma das
páginas rascunhadas.
A pergunta
Na folha quase
amarrotada lemos isto numa das perguntas que grafáramos às pressas para
ulterior escolha:
Que
possibilidades existem e que vantagens ou desvantagens adviriam da implantação
de um regime extremista no Brasil?
Estendemos o
papel a José Cândido, que o põe, por sua vez, diante do “médium” já em transe.
Fornecemos ao
mesmo tempo nosso próprio bloco de papel e lápis para a grafia da mensagem que
porventura viesse, pois não houvera nenhuma preparação para isso.
A seguir José
Cândido pede que nos concentremos numa prece ao Senhor e ao espírito dos nossos
mortos bem-amados.
A resposta
Nem um minuto
chegou a passar e ouvimos o ruído característico do lápis sobre o papel.
Inicia-se a grafia da mensagem, ràpidamente, como de costume. Ainda uns doze ou
quinze minutos de concentração e o lápis estacou ao fim de uma assinatura.
Imobilidade.
José Cândido
pede que o acompanhemos agora em sua oração. Finda esta, estão findos os trabalhos.
A mensagem que
recebêramos, em resposta àquela nossa pergunta, é a seguinte:
“Amigos, que
Deus ilumine o vosso entendimento.
Avesso à
política, me sentiria mais à vontade se fosse inquirido acerca do evangelho.
Todavia, opiniões são coisas que pouco se custa a fornecer; contudo os meus
pareceres são igualmente pessoais como os vossos, sem o caráter da
infalibilidade.
As mais
extravagantes teorias políticas têm sido veiculadas no Brasil, cujo povo,
guardando tradições de raças diversas, ainda se encontra longe, da linha decisiva
de sua evolução racial. Tudo aí se mistura e todas as idéias se propagam sem
que sejam devidamente estudadas, ponderadas no cadinho da análise mais
rigorosa. A implantação de um regime extremista seria um grande erro que o
sofrimento coletivo viria certamente expiar.
De um lado
prevalecem as doutrinas dos governos fortes, como a política do “sigma”
copiando o fascismo em suas bases; da outra margem se encontra o comunismo,
inadaptável ainda à existência da nacionalidade, levando-se em conta o problema
da necessidade de braços para o trabalho em uma terra vastíssima à espera das
iniciativas e cometimentos de progresso preciso. É verdade que a Rússia atual
fornece exemplos ao mundo inteiro, porém os homens que inauguraram violentamente
os seus novos regimes não se fizeram de um dia para o outro. Eles representavam
muitos séculos de opressão, de martírios, de tormentos nefandos, não saíram do
proletariado que se compraz na incultura, mas da energia coordenadora que busca
conciliar o labor operário com o trabalho intelectual das academias.
O Brasil
necessita, antes de tudo, combater o magno problema do analfabetismo. É
necessário que se solucione o enigma pedagógico que implica toda essa mocidade
sem entusiasmo e sem energia para o estudo; para o estado ao qual não se
enquadra outro regime fora da democracia liberal, até que o povo se eduque
convenientemente para as grandes iniciativas do porvir. Fora disso é a ilusão
portadora dos desenganos trágicos que empobrecem a economia e roubam a paz
social. Infelizmente, a ambição, o personalismo, infestam os bastidores da política
brasileira, eminentemente prejudicada pela sua visão mesquinha, concernente aos
problemas da coletividade. Mas o que quereis? O trabalho é dos homens e a eles
compete a realização do progresso necessário. Longe do cenário do mundo não nos
é lícito influenciar sobre questões distantes da nossa esfera de ação.
A nossa
atividade unicamente se circunscreve ao esclarecimento das almas, pugnando para
que as construções da crença sejam novamente reedificadas no templo dos
corações humanos, trabalhados pelas concepções amargosas e destruidoras do
negativismo. Para atingirmos semelhante desideratum só no Evangelho buscamos os
nossos programas de ação. O nosso labor intenso é todo realizado com esse objetivo.
Que os homens
resolvam de entendimento posto no código da perfeição, legado à Terra por Jesus
e estarão de acordo com a evolução que deve presidir a todas as manifestações
das nossas atividades nos setores do trabalho humano. A Deus elevemos, assim, nosso
votos para que os governantes do Brasil se acautelem com a infiltração de
idéias contrárias ao bem-estar social e em desacordo coma sua vida de
nacionalidade nova e apta a desempenhar um papel muito preponderante no seio da
humanidade
Emmanuel
(De “O GLOBO”,
de 16 de maio de 1935)
Francisco
Cândido Xavier
Humberto de
Campos
Palavras do Infinito
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