SAÚDE
Joaquim
Murtinho
Se
o homem compreendesse que a saúde do corpo é reflexo da harmonia espiritual, e
se pudesse abranger a complexidade dos fenômenos íntimos que o aguardam além da
morte, certo se consagraria à vida simples, com o trabalho ativo e a
fraternidade legitima por normas de verdadeira felicidade.
A
escravização aos sintomas e aos remédios não passa, na maioria das ocasiões, de
fruto dos desequilíbrios a que nos impusemos.
Quanto
maior o desvio, mais dispendioso o esforço de recuperação. Assim, também,
cresce o número das enfermidades à proporção que se nos multiplicam os
desacertos, e, exacerbadas as doenças, tornam-se cada vez mais difíceis e
complicados os processos de tratamento, levando milhões de criaturas a se
algemarem a preocupações e atividades que adiam, indefinidamente, a verdadeira
obra de educação que o mundo necessita.
O
homem é inquilino da carne, com obrigações naturais de preservação e defesa do
patrimônio que temporariamente usufrui.
Não
se compreende que uma pessoa instruída amontoe lixo e lama, ou crie insetos
patogênicos no próprio âmbito doméstico.
Existe,
no entanto, muita gente de boa leitura e de hábitos respeitáveis que não se lhe
dá atochar dos mais vários tóxicos a residência corpórea e que não acha mal no
libertar e cólera e a irritação, de minuto a minuto, dando pasto a pensamentos
aviltantes, cujos efeitos por muito tempo se fazem sentir na vida diária.
Sirvamo-nos
deste símbolo, para estender-nos em mais simples considerações. Se sabemos
imprescindível a higiene interna da casa, por que não movermos o espanador da
atividade benéfica, desmanchando as teias escuras das idéias tristes? Por que
não fazer ato salutar do uso da água pura, em vasta escala, beneficiando os
mais íntimos escaninhos do edifício celular e atendendo igualmente ao banho
diário, no escrúpulo do asseio? Se nos desvelamos em conservar o domicílio
suficientemente arejado, por que não respirar, a longos haustos, o oxigênio tão
puro quanto possível, de modo a facilitar a vida dos pulmões?
Quem
construa uma habitação, cogita, não somente bases sólidas, que a suportem,
senão da orientação, de tal jeito que a luz do sol a envolva e penetre
profundamente; jamais voltaria esse alguém a situar o ambiente doméstico numa
caverna de troglodita.
Analogamente,
deve o homem assentar fundamentos morais seguros, que lhe garantam a verdadeira
felicidade, colocando-se, no quadro social onde vive, de frente voltada para os
ideais luminosos e santificantes, de modo que a divina inspiração lhe inunde as
profundezas da alma.
Freqüentemente
a moradia das pessoas cuidadosas e educadas se exorna, em seu derredor, de
plantas e de flores que encantam o transeunte, convidando-o à contemplação
repousante e aos bons pensamentos.
Por
que não multiplicar em torno de nós os gestos de gentileza e de solidariedade,
que simbolizam as flores do coração?
Ninguém
é tentado a descansar ou a edificar-se em recintos empedrados ou espinhosos.
Assim
também, a palavra agradável que proferimos ou recebemos, as manifestações de simpatia,
as atitudes fraternais e a compreensão sempre disposta a auxiliar, constituem
recursos medicamentosos dos mais eficientes, porque a saúde, na essência, é
harmonia de vibrações.
Quando
nossa alma se encontra realmente tranqüila, o veículo que lhe obedece está em
paz.
A
mente aflita despede raios de energia desordenada que se precipitam sobre os
órgãos à guisa de dardos ferinos, de conseqüências deploráveis para as funções
orgânicas.
O
homem comumente apenas registra efeitos, sem consignar as causas profundas.
E
que dizer das paixões insopitadas, das enormes crises de ódio e de ciúme, dos
martírios ocultos do remorso, que rasgam feridas e semeiam padecimentos
inomináveis na delicada constituição da alma?
Que
dizer relativamente à hórrida multidão dos pensamentos agressivos duma razão
desorientada, os quais tanto malefício trazem, não só ao indivíduo, mas, igualmente, aos que se achem com ele
sintonizados?
O
nosso lar de curas na vida espiritual vive repleto de enfermos desencarnados.
Desencarnados
embora, revelam psicoses de trato difícil.
A
gravitação é lei universal, e o pensamento ainda é matéria em fase diferentes
daquelas que nos são habituais. Quando o centro de interesses da alma permanece
na Terra, embalde se lhe indicará o caminha das alturas.
Caracteriza-se
a mente também, por peso específico, e é na própria massa do Planeta que o
homem enrodilhado em pensamentos inferiores se demorará, depois da morte, no
serviço de purificação.
Os
instrutores religiosos, mais do que doutrinadores, são médicos do espírito que raramente
ouvimos com a devida atenção, enquanto na carne.
Os
ensinamentos da fé constituem receituário permanente para a cura positiva das antigas
enfermidades que acompanham a alma, século trás séculos.
Todos
os sentimentos que nos ponham em desarmonia com o ambiente, onde fomos chamados
a viver, geram emoções que desorganizam, não só as colônias celulares do corpo
físico, mas também o tecido sutil da alma, agravando a anarquia do psiquismo.
Qualquer criatura, conscientemente ou não, mobiliza as faculdades magnéticas
que lhe são peculiares nas atividades do meio em que vive. Atrai e repele. Do
modo pelo qual se utiliza de semelhantes forças depende, em grande parte, a
conservação dos fatores naturais de saúde.
O
espírito rebelde ou impulsivo que foge às necessidades de adaptação,
assemelha-se a um molinete elétrico, armado de pontas, cuja energia carrega e,
simultaneamente, repele as moléculas do ar ambiente; assim, esse espírito cria
em torno de si um campo magnético sem dúvida adverso, o qual, a seu turno, há
de repeli-lo, precipitando-o numa “roda-viva” por ele mesmo forjada.
Transformando-se
em núcleo de correntes irregulares, a mente perturbada emite linhas de força,
que interferirão como tóxicos invisíveis sobre o sistema endocrínico,
comprometendo-se a normalidade das funções.
Mas
não são somente a hipófise, a tireóide ou as cápsulas supra-renais as únicas
vítimas da viciação. Múltiplas doenças surgem para a infelicidade do espírito
desavisado que as invoca. Moléstias como o aborto; a encefalite letárgica, a
esplenite, a apoplexia cerebral, a loucura, a nevralgia, a tuberculose, a
Coréia, a epilepsia, a paralisia, as afecções do coração, as úlceras gástricas
e as duodenais, a cirrose, a icterícia, a histeria e todas as formas de câncer
podem nascer dos desequilíbrios do pensamento.
Em
muitos casos, são inúteis quaisquer recursos medicamentosos, porquanto só a modificação
do movimento vibratório da mente, à base de ondas simpáticas, poderá oferecer
ao doente as necessárias condições de harmonia.
Geralmente,
a desencarnação prematura é o resultado do longo duelo vivido pela alma
invigilante; esses conflitos prosseguem na profundeza da consciência,
dificultando a ligação entre a alma e os poderes restauradores que governam a
vida.
A
extrema vibratilidade da alma produz estados de hipersensibilidade, os quais,
em muitas circunstâncias, se fazem seguir de verdadeiros desastres
organopsíquicos.
O
pensamento, qualquer que seja a sua natureza, é uma energia, tendo, conseguintemente,
seus efeitos.
Se
o homem cultivasse a cautela, selecionando inclinações e reconhecendo o caráter
positivo das leis morais, outras condições, menos dolorosas e mais elevadas,
lhe presidiriam à evolução.
É
imprescindível, porém, que a experiência nos instrua individualmente. Cada qual
em seu roteiro, em sua prova, em sua lição.
Com
o tempo aprenderemos que se pode considerar o corpo como o “prolongamento do
espírito”, e aceitaremos no Evangelho do Cristo o melhor tratado de imunologia
contra todas as espécies de enfermidade.
Até
alcançarmos, no entanto, esse período áureo da existência na Terra, continuemos
estudando, trabalhando e esperando.
FALANDO
A TERRA
FRANCISCO
CÂNDIDO XAVIER
ESPÍRITOS
DIVERSOS
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