ESTUDO
DA PARÁBOLA
Comentávamos
a necessidade da divulgação da Doutrina Espírita, quando o rabí Zoan ben
Ozias, distinto orientador israelita, hoje consagrado às verdades do Evangelho
no Mundo
Espiritual, pediu licença a fim de parafrasear a parábola dos talentos, contada
por Jesus,
e falou, simples:
-
Meus amigos, o Senhor da Terra, partindo, em caráter temporário, para fora do
mundo, chamou
três dos seus servos e, considerando a capacidade de cada um, confiou-lhes alguns
dos seus próprios bens, a título de empréstimo, participando-lhes que os reencontraria,
mais tarde, na Vida Superior...
Ao
primeiro transmitiu o Dinheiro, o Poder, o Conforto, a Habilidade e o
Prestígio; ao segundo
concedeu a Inteligência e a Autoridade, e ao terceiro entregou o Conhecimento Espírita.
Depois
de longo tempo, os três servidores, assustados e vacilantes, compareceram
diante do
Senhor para as contas necessárias.
O
primeiro avançou e disse:
-
Senhor, cometi muitos disparates e não consegui realizar-te a vontade, que
determina o bem
para todos os teus súditos, mas, com os cinco talentos que me puseste nas mãos, comecei
a cultivar, pelo menos com pequeninos resultados, outros cinco, que são o Trabalho,
o Progresso, a Amizade, a Esperança e a Gratidão, em alguns dos companheiros
que ficaram no mundo... Perdoa-me, ó Divino Amigo, se não pude fazer mais!...
O
Senhor respondeu tranquilo:
-
Bem está, servo fiel, pois não erraste por intenção... Volta ao campo terrestre
e reinicia a obra
interrompida, renascendo sob o amparo das afeições que ajudaste.
Veio
o segundo e alegou:
-
Senhor, digna-te desculpar-me a incapacidade... Não te pude compreender
claramente os
desígnios que preceituam a felicidade igual para todas as criaturas e perpetrei lastimáveis
enganos... Ainda assim, mobilizei os dois valores que me deste e, com eles, angariei
outros dois que são a Cultura e a Experiência para muitos dos irmãos que permanecem
na retarguada...
O
Excelso Benfeitor replicou, satisfeito:
-
Bem está, servo fiel, pois não erraste por intenção... Volta ao campo terrestre
e reinicia a obra
interrompida, renascendo sob o amparo das afeições que ajuntaste.
O
terceiro adiantou-se e explicou:
-
Senhor, devolvo-te o Conhecimento Espírita, intocado e puro, qual o recebi de
tua munificência...
O Conhecimento Espírita é Luz, Senhor, e, com ele, aprendi que a tua Lei é
obra dura demais, atribuindo a cada um conforme as próprias obras. De que modo
usar uma
lâmpada assim, brilhante e viva, se os homens na Terra estão divididos por pesadelos
de inveja e ciúme, crueldade e ilusão? Como empregar o clarão de tua verdade
sem
ferir ou incomodar? e como incomodar ou ferir, sem trazer deploráveis consequências
para mim próprio? Sabes que a Verdade, entre os homens, cria problemas onde
aparece... Em vista disso, tive medo de tua Lei e julguei como sendo a medida
mais razoável
para mim o acomodar-me com o sossego de minha casa... Assim pensando, ocultei
o dom que me recomendaste aplicar e restituo-te semelhante riqueza, sem o mínimo
toque de minha parte!...
O
Sublime Credor, porém, entre austero e triste, ordenou que o tesouro do
Conhecimento Espírita
lhe fôsse arrancado e entregou, de imediato, aos dois colaboradores diligentes que
se encaminhariam para a Terra, de novo, declarando, incisivo:
-
Servo infiel, não existe para a tua negligência outra alternativa senão a de
recomeçares toda
a tua obra pelos mais obscuros entraves do principio...
-
Senhor!... Senhor!... – chorou o servo displicente. – Onde a tua equidade?
Deste aos meus
companheiros o Dinheiro, o Poder, o Conforto, a Habilidade, o Prestígio, a Inteligência
e a Autoridade, e a mim concedeste tão-só o Conhecimento Espírita... Como fazes
cair sobre mim todo o peso de tua severidade?
O
Senhor, entretanto, explicou, brandamente:
-
Não desconheces que te atribuí a luz da Verdade como sendo o bem maior de
todos. Se ambos
lhes faltava o discernimento que lhes podias ter ministrado, através do
exemplo, de
que fugiste por medo da responsabilidade de corrigir amando e trabalhar
instruindo...
Escondendo
a riqueza que te emprestei, não só te perdeste pelo temor de sofrer e auxiliar,
como também prejudicaste a obra deficitária de teus irmãos, cujos dias no mundo teriam
alcançado maior rendimento no Bem Eterno, se houvessem recebido o quinhão de amor
e serviço, humildade e paciência que lhes negaste!...
-
Senhor!... Senhor!... porquê? – soluçou o infeliz – porque tamanho rigor, se a
tua Lei é de
Misericórdia e Justiça.
Então,
os assessores do Senhor conduziam o servo desleal para as sombras do recomeço,
esclarecendo a ele que a Lei, realmente, é disciplina de Misericórdia e
Justiça, mas
com uma diferença: para os ignorantes do dever. A Justiça chega pelo alvará da Misericórdia;
mas, para as criaturas conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega
pelo cárcere da Justiça.
Estante
da Vida
Irmão X
Francisco Cândido Xavier
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