quinta-feira, 29 de junho de 2017


 



 


 

Loucura e amor

 

"Sorriso aberto e constante,

Sem parada, sem destino,

Quem não gostava de suas palavras?

 

Anoiteceu...

Era chegada a hora!

Clima de tristeza e dor anunciava.

 

Soluços inconformados...

Sorrisos se fechavam, lágrimas caíam,

Momentos de revolta retorciam os pensamentos.

Não tinha volta.

 

Foi-se, deixando em nós, o mais profundo carinho.

Foi-se, deixando em nós, as mais lindas

recordações de alegria.

Foi-se, deixando em nós, sua música errada na flauta,

Seu jeito doido de sentar-se ao piano,

Sua voz afinada no coral...

 

Não pudemos segurá-la entre nós,

Outra missão a chamava...

 

Nossos estudos na música continuarão,

Pois em cada nota tocada, em cada nota cantada,

Você será lembrada com carinho e amor por todos nós."

 

Esta página poética, intitulada "A Inesquecível Regina", de autoria de Rose Mari Mestrinari e publicada no jornal Folha de Mirassol, revela-nos um perfil da personalidade da jovem Regina Elena Fernandes, recordando saudosos e bons tempos, época em que as duas jovens cursavam piano clássico no Conservatório Musical de Mirassol, SP.

Rose Mari aborda também a trágica desencarnação de sua colega, quando, na noite de 24 de outubro de 1981, na cidade de Mirassol, caiu baleada pelo seu namorado, que, a seguir, se suicidou, fato verificado na própria residência de Regina. Mas, dois anos após o triste fato, contrariando o texto poético, ela voltou! Sim, pela psicografia de Chico Xavier, Regina voltou contando detalhadamente as origens da tragédia e comunicando aos queridos progenitores que já está bem refeita, dedicando-se, presentemente, na área da enfermagem à mesma criatura que lhe tirou a vida física, ainda portadora de evidentes sinais de doença mental.

A pedido dela mesma, foi esta a primeira tarefa de Regina na Espiritualidade, mostrando-nos que, sob o amparo de Jesus, o amor vence sempre.

Em face deste trabalho assistencial, recentemente revelado, Rose Mari, por certo, estava bem inspirada quando escreveu, em fins de 1981:

"Não pudemos segurá-la entre nós, Outra missão a chamava..."

Eis, a elucidativa carta de Regina:

Querido papai José Roberto e querida mãezinha Sirlei, peço-lhes me abençoem.

Sou eu mesma, a recordar os dois anos que se foram...

Outubro passado foi a marca inesquecível. Os dias se sobrepuseram sobre os dias e ressurgi do sofrimento para a consolação. De começo, foi o doloroso espanto da provação que se abateu sobre nós.

Pobre Pedro! Ele me dissera que receava os compromissos do casamento. Transportava consigo dificuldades congênitas, segundo os pareceres de um médico amigo. Falei da união espiritual, em que o companheirismo é a beleza do amor entre as almas. Ele chorou inconformado. Como ser pai se a paternidade se lhe erguia no peito por ideal que não podia arredar do coração? Conquanto me sensibilizasse, tranquei as lágrimas no peito, para que as dele fossem enxugadas. Poderíamos nos encontrar numa existência linda, em que as crianças sofredoras e órfãos se asilassem em nossos sentimentos de pais adotivos. Deus nos daria forças, seríamos felizes, na comunhão de sonhos e esperanças.

Pedro me pareceu reconfortado, mas alguns dias depois, penetrou a nossa casa, exterminando-me o corpo a tiros que me despojaram da vida física, sem qualquer possibilidade de restauração e, por fim, ele próprio, à vista da mãezinha Sirlei, atirou contra si mesmo, num suicídio que nunca mais esqueceremos.

Entretanto, embora soubesse que o papai José Roberto e a mamãe, com a Paula e com o Júnior, sofriam uma dor sem limites, ao ver-me desembaraçada dos constrangimentos a que fui submetida nos primeiros socorros que recebi,. em plena inconsciência de mim mesma, comecei a intensificar as minhas preces e os meus pensamentos positivos para que nos reerguêssemos espiritualmente da grande tribulação.

Sei que os pais queridos choravam comigo a extensão de minhas ilusões destruídas e peço-lhes me perdoem pelo trabalho que lhes causei.

Uma senhora que me recomendou chamá-la simplesmente por Maria, me prestou desvelada assistência, qual se me fosse uma enfermeira maternal. Dizendo-me representar a Vovó Amélia junto de mim, tudo fez por levantar-me o ânimo, e com o amparo de outros benfeitores nos foi possível ver a mãezinha Sirlei e a nossa Paula, o papai José Roberto e o nosso caro Júnior mais conformados.

E comunico aos pais queridos que pedi aos Mensageiros de Jesus me concedessem, por primeira tarefa na Espiritualidade, o serviço de proteção em auxílio ao quase companheiro da vida terrestre que me despojara do corpo físico, num momento de louca alucinação. Desse modo, o meu doente de hoje me obriga a estudar enfermagem e me confere o privilégio de trabalhar e servir para, em futuro próximo, servir e trabalhar no serviço aos outros.

Desculpem-me os pais queridos se me dedico presentemente ao mesmo irmão que me varou o veículo físico usando os projéteis que me prostraram. E que a lei do amor assim nos recomenda: amar aos que nos ferem e auxiliar aos que procuram destruir-nos.

E acima de tudo isso o nosso pobre amigo não agiu em sã consciência, porquanto a condição de alienado mental, no cérebro dele, é ainda evidente. Com a paciência da mãezinha Sirlei e com a dedicação do papai José Roberto sei que a bondade de Jesus me auxiliará a vencer no serviço a que me propus.

É com alegria que lhes faço a presente comunicação, mesmo porque tive a felicidade de nascer num lar que me ensinou a viver sem o ódio, procurando olvidar os meus caprichos e atender sempre aos Desígnios de Deus.

Querido papai, agradeço as suas vibrações de apoio em meu benefício, reconhecimento que torno extensivo à mãezinha Sirlei e aos meus avós Miguel e Rosa, José Mendonça e Amélia que até hoje me lembram nas orações.

Peço a Jesus conceda ao Júnior e a nossa querida Paula uma vida nobre e feliz.

Acompanhei-os até aqui e, antes, recebi a recomendação de, se possível, trazer aos nossos amigos, senhor Carlos Alberto e a dona Haylet, as notícias possíveis da jovem Simone, a filhinha deles, recentemente desencarnada. Visitei-a antes de nosso ajuste para a viagem até aqui e posso dizer-lhe que, embora ainda hospitalizada, a menina Simone está muito melhor, numa convalescença encorajadora e brilhante.

Ao abraçá-la, conheci ao lado dela um nobre amigo, que se me deu a conhecer sob o nome de Antônio Couceiro, dedicado a ela, para quem se volta com as melhores atenções. Esse amigo, aliás, nos recomendou pedir aos pais de nossa querida amiga não chorarem com tanta dor e aceitar-lhe o regresso à Vida Espiritual, com espírito de calma e compreensão.

Simone é um amor de criatura, de quem me honrarei, se puder ser aqui, para ela, uma irmã devotada. Observei que ainda traz consigo algumas seqüelas do aneurisma que lhe cortou o fio da existência, que naturalmente seria mesmo breve, de vez que nós todos, em todas as nossas provas, acatamos os Desígnios do Pai Misericordioso.

Querido papai José Roberto e querida mãezinha Sirlei, peço entregarem à Paula e ao Júnior as minhas lembranças de sempre, ao mesmo tempo que lhes rogo conservarem nos corações queridos, o coração reconhecido e saudoso da filha que os ama e respeita cada vez mais, sempre a filha reconhecida,

Regina Elena

Regina Elena Fernandes

 

Notas e Identificações

 

1 - Carta recebida por Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do GEP, em Uberaba, Minas, na noite de 05/11/1983.

2 - Papai José Roberto e mãezinha Sirlei — Seus pais, José Roberto Fernandes e Sirlei Mendonça Fernandes, residem em Mirassol, SP, à Rua 13 de Maio, 2.353.

3 - Outubro passado foi à marca inesquecível. — Regina desencarnou no mês de outubro.

4 - Pedro (...) transportava consigo dificuldades congênitas — Foi o namorado de Regina. A família da jovem ouviu dizer que a doença de Pedro era epilepsia, que explica perfeitamente o surto psicótico que motivou a trágica ocorrência.

5 - Paula e Júnior — Ana Paula Fernandes e José Roberto Fernandes Júnior, irmãos.

6 - Maria — Benfeitora Espiritual.

7 - O meu doente de hoje me obriga a estudar enfermagem — Ela sempre manifestava aos familiares o desejo de ser enfermeira ou fazer um curso para assistir deficientes.

8 - E me confere o privilégio de trabalhar e servir para, em futuro próximo, servir e trabalhar no serviço aos outros. — Regina era uma jovem prestativa e afável, principalmente com pessoas idosas e crianças.

9 - A condição de alienado mental, no cérebro dele, é ainda evidente. — Obviamente, ela se refere ao cérebro perispiritual, pois o perispírito (corpo espiritual ou psicossoma) é um "duplo", possuindo todos os órgãos do corpo físico.

10 - Meus avós Miguel e Rosa, José Mendonça e Amélia — Miguel Fernandes e Rosa Machado Fernandes, avós paternos, residem em Santos, SP. E os avós maternos, José Mendonça e Amélia Almeida Mendonça, residem em Fernandópolis, SP.

11 - Nossos amigos, senhor Carlos Alberto e dona Haylet — Estavam presentes à reunião Carlos Alberto Horcel e Haylet Couceiro Horcel, casal amigo da família e residente em Santos. Eles ficaram surpresos com a exatidão do nome "Haylet", dificilmente redigido corretamente.

12 - Simone, a filhinha deles, recentemente desencarnada. — Simone Couceiro Horcel partiu para o Além em 05/9/1983, com 13 anos de idade. Em vida material, Regina não a conheceu.

13 - Antônio Couceiro — Tio materno de Simone, desencarnado há 20 anos. A citação de seu nome na carta foi uma grande surpresa para o casal Horcel, que imaginava somente uma assistência dos avós desencarnados à filha querida.

14 - Regina Elena Fernandes — Nascida em Fernandópolis, SP, a 8/5/1963, mudou-se, em 1975, para Mirassol, onde prosseguiu seus estudos na Escola Estadual Genaro Domarco. Desencarnou 2 meses antes de receber o certificado de pianista do Conservatório Musical local. Suas colegas prestaram-lhe, na ocasião, bela homenagem, registrando no Convite de Formatura as expressivas palavras:

"À Regina Elena:

Você sempre nos ensinou a transformar a tristeza em alegria.

Hoje, através deste recado, queremos homenageá-la pelo dia da nossa formatura e transmitir-lhe toda a felicidade que estamos sentindo.

De onde você estiver, que continue sorrindo, que fique perto de nós, como sempre esteve.

Formandas - 1981"

 

Do livro “RETORNARAM CONTANDO”

 

FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

ESPÍRITOS DIVERSOS

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