EXAMINEMOS
A NÓS MESMO
L
- Questão 919
O
dever do espírita-cristão é tornar-se progressivamente melhor.
Útil,
assim, verificar, de quando em quando, com rigoroso exame pessoal, a nossa verdadeira
situação íntima.
Espírita
que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário.
Testa
a paciência própria: - Estás mais calmo, afável e compreensivo?
Inquire
as tuas relações na experiência doméstica:
-
Conquistaste mais alto clima de paz dentro de casa?
Investiga
as atividades que te competem no templo doutrinário: - Colaboras com mais
euforia na seara do Senhor?
Observa-te
nas manifestações perante os amigos: - Trazes o Evangelho mais vivo nas
atitudes?
Reflete
em tua capacidade de sacrifício: - Notas em ti mesmo mais ampla disposição de
servir voluntariamente?
Pesquisa
o próprio desapego: - Andas um pouco mais livre do anseio de influência e de
posses terrestres?
Usas
mais intensamente os pronomes "nos", "nosso" e
"nossa" e menos os
determinativos
"eu", "meu" e "minha"?
Teus
instantes de tristeza ou de cólera surda, às vezes tão conhecidos somente por
ti, estão presentemente mais raros?
Diminuíram-te
os pequenos remorsos ocultos no recesso da alma?
Dissipaste
antigos desafetos e aversões?
Superastes
os lapsos crônicos de desatenção e negligência?
Estudas
mais profundamente a Doutrina que professas?
Entendes
melhor a função da dor?
Ainda
cultivas alguma discreta desavença?
Auxilias
aos necessitados com mais abnegação?
Tens
orado realmente?
Teus
ideias evoluíram?
Tua
fé raciocinada consolidou-se com mais segurança?
Tens
o verbo mais indulgente, os braços mais ativos e as mãos mais abençoadoras?
Evangelho
é alegria no coração: - Estás, de fato, mais alegre e feliz intimamente, nestes
três últimos anos?
Tudo
caminha! Tudo evolui! Confiramos o nosso rendimento individual com o Cristo!
Sopesa
a existência hoje, espontaneamente, em regime de paz, para que te não vejas na
obrigação de sopesá-la amanhã sob o impacto da dor.
Não
te iludas! Um dia que se foi é mais uma cota de responsabilidade, mais um passo
rumo à Vida Espiritual, mais uma oportunidade valorizada ou perdida.
Interroga
a consciência quanto à utilidade que vens dando ao tempo, à saúde e aos ensejos
de fazer o bem que desfrutas na vida diária.
Faze
isso agora, enquanto te vales do corpo humano, com a possibilidade de
reconsiderar
diretrizes e desfazer enganos facilmente, pois, quando passares para o lado de
cá, muita vez, já será mais difícil...
André
Luiz
CONHECIMENTO
DE SI MESMO
919.
Qual o meio prático mais eficaz que tem
o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?
“Um
sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
a)
— Conhecemos toda a sabedoria desta
máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si
mesmo. Qual o meio de consegui-lo?
“Fazei
o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha
consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não
faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
Foi
assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.
Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o
dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e
ao seu anjo-de-guarda que o esclarecessem, grande força adquiriria para se
aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmos
perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes
em tal ou tal circunstância, sobre se fizestes
alguma
coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que
não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: ‘Se aprouvesse a Deus chamar-me
neste momento, teria que temer o olhar de alguém, ao entrar de novo no mundo
dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado?’ “Examinai o que pudestes ter
obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós
mesmos.
As
respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de
um mal que precise ser curado.
“O
conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas,
direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do
amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se
considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há
dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode
iludir-vos.
Quando
estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a
qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na
podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de
duas medidas na aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela
pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos,
porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes
os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com
mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua
consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim
de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas
daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar
suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais
avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em
paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.
“Formulai,
pois, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais
multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma
felicidade eterna.
Não
trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso
na velhice? Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o
fim que vos faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse
descanso de alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em
comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de
alguns esforços? Sei haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o
futuro. Ora, esta exatamente a idéia que estamos encarregados de eliminar do
vosso íntimo, visto desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não
restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa
atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos
damos instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este
objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos.”
SANTO
AGOSTINHO
Muitas
faltas que cometemos nos passam despercebidas.
Se,
efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais
amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o
suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel dos nossos
atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer
máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige
respostas categóricas, por um sim ou um não, que não abrem
lugar
para qualquer alternativa e que não outros tantos argumentos pessoais. E, pela
soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que
existe em nós.
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec
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