ASSUNTOS DA VIDA:
“Morte clinica” e
desencarne, amor, eutanásia, psicanálise, vida pulsante do Universo, sexo e
evolução, divórcio, marxismo, o fim das guerras, a arte de envelhecer, etc.
Com mais de dez comensais
à mesa, naquele meio-dia de sábado, o médium Xavier pede que cada um se sirva
daquilo que preferir, enquanto ele próprio serve refrigerante aos presentes.
Finda a refeição, e antes
que Chico Xavier se retire para um repouso de meia hora recuperando energias
para a tarefa evangélica de sábados à tarde, retenho-o por alguns instantes em
palestra sobre planos para este livro. Sugeri-lhe que o título fosse Janela
Para o Céu, tendo ele preferido que o título seja Janela Para a Vida, já que
seu tema principal é a mediunidade.
Enquanto concordava com
ele que sua sugestão era a mais indicada, notei que o médium Xavier me
observava com uma expressão indefinível. Ou melhor, aquele olhar compassivo e
doce, compreensivo e profundo, não era o olhar de Chico Xavier a que eu me
habituara.
Aquela luz vertendo do
Mais Alto proporcionava-me sentimentos de profunda paz, aliados a uma
indescritível vontade de superar-me em minhas limitações, de já me ter
libertado das algemas das ilusões materiais. Uma luz de inavaliável beleza,
vinda de regiões desconhecidas de minha alma mas presentes nas mais recônditas
esperanças de meu espírito sedento de Luz e Sabedoria Divina.
Poderia afirmar tratar-se
de Emmanuel, o Benfeitor e o Amigo dos necessitados. Seja como for, penso que
nunca esquecerei os vívidos sentimentos que me avassalaram a alma naqueles
breves e infinitos minutos de enlevo espiritual.
Antes de recolher-se aos
seus aposentos, o médium Xavier entregou-me um envelope contendo respostas às
perguntas que eu lhe formulara em várias folhas datilografadas.
Tratando de muitos e
variados assuntos, disse ao médium que respondesse somente as que lhe
parecessem mais apropriadas ou significativas. Apesar disso, nem uma só ficou
sem resposta. Ei-las:
Psicanálise
P – A psicanalista Karen
Horney afirma que enquanto dormimos verifica-se oculta atividade mental
inconsciente, fazendo com que, ao acordarmos, encontremos a impensada solução
para esse ou aquele problema que nos preocupava até antes de adormecermos. Como
no caso do famoso problema matemático, cuja solução aparece pronta pela
manhã... Acha que essa imperceptível atividade onírica, que tantas vezes nos
oferece soluções surpreendentes, é de ordem puramente mental, da própria
pessoa, ou pode ter o concurso de Espíritos afins?
R – Respeito a
interpretação da ciência psicológica com referência à nossa vida mental
inconsciente, entretanto, creio que, na maioria dos casos em que despertamos
após o sono comum com determinadas “soluções prontas” para problemas que nos
inquietavam, isso se deve ao amparo de Espíritos Amigos e Benfeitores que nos
estendem auxílio, quando a nossa mente repousa entre as atividades de vigília.
Aliás, não nos seria
lícito esquecer que os magnetizadores, mesmo entre nós, os espíritos
encarnados, conseguem prestar valioso auxílio aos companheiros por eles
magnetizados, enquanto se encontram esses, no estado de hipnose, sem que eles,
os magnetizados, conservem, pelo menos temporariamente, qualquer lembrança dos
benefícios recebidos.
P – Mais ou menos dentro
dessa mesma teorização Karen Horney denomina de insight o fenômeno
conscientizador da mente humana, termo que em nossa língua equivaleria ao
famoso “estalinho do Padre Vieira”. Por exemplo, segundo Horney: se eu sinto
medo de lugares altos, no instante em que me dou conta desse temor, tenho um
primeiro insight conscientizador. Se, eventualmente, mais tarde consigo
descobrir as causas desse medo das alturas, tenho um novo e mais amplo
insight, capaz até mesmo de diluir o medo que me atormenta. Á luz da
Espiritualidade, como definiria o enfoque dessa lúcida psicanalista?
R – Compreendemos o
fenômeno não só por socorro indireto de amigos desencarnados, como também por
impacto de recordações instintivas, decorrente de circunstâncias em que a
personalidade reencarnada recapitula experiências pelas quais haverá passado em
existências anteriores.
P – De acordo com teorias
psicanalistas, a neurose é uma anomalia que induz o paciente a sentir exagerada
necessidade de afeto e aprovação por parte das pessoas e do meio em que vive.
Qual o remédio eficaz para as afecções neuróticas e as obsessões da alma?
R – Admitimos que o
conhecimento dos princípios reencarnacionistas, auxiliando-nos a aceitar com
paciência e coragem os problemas e provações criados por nós mesmos, com o
aprendizado e prática da tolerância recíproca nos imunizará contra os prejuízos
das neuroses, auxiliando-nos, igualmente, na cura das obsessões.
P – Que diria aos pais que
inconscientemente suscitam em suas crianças a ideia de que seu direito à vida
de certa forma depende exclusivamente de que elas, como filhos, correspondam às
expectativas nelas depositadas pelos pais?
R – Com a maturidade
espiritual necessária, o homem perceberá que os filhos são espíritos imortais,
independentes dos pais, que lhes são tutores perante Deus e a Vida.
Isso desfará a ilusão de
que os filhos são cópias dos genitores que lhes propiciaram a formação de novo
corpo, na Terra, conquanto saibamos que, em numerosos casos, os filhos se
parecem extraordinariamente com os pais, conforme os princípios da afinidade,
compreensíveis em nossas vivências comuns.
P – Goethe afirmou certa
vez que no mundo só existiu e existe um único conflito: o conflito entre a incredulidade
e a fé. Você concorda com tal síntese?
R – Cremos que o admirável
poeta condensou todo um mundo de pensamentos complexos na síntese apresentada,
porque renteando com esse conflito entre a incredulidade e a fé, somos
induzidos a reconhecer outros, como sejam os conflitos entre o ódio e o amor,
entre o equilíbrio e o desequilíbrio, e outros muitos, entre os quais lidamos e
lutamos, todos, nós, à busca de nosso próprio burilamento.
P – Você concorda com a
teoria freudiana quando diz que problemas afetivo-sexuais mal resolvidos na
infância e na mocidade criam problemas ao longo de toda a existência?
R – A educação do impulso
sexual é trabalho não só para a infância e para a juventude, mas para todo o
tempo da existência terrestre, continuando além da morte para as inteligências
desencarnadas.
P – Acha válido o dogma
psicanalítico que diz que até a idade de 3 ou 4 anos TUDO está formado na
personalidade da criança, sendo o restante da existência nada mais que uma
continuação do que até ali ficou construído dentro dela?
R – Ao que nos parece, o
conteúdo da personalidade, formada na criança, é um testemunho eloquente da
reencarnação, compelindo toda criatura humana a ser educada e a educar-se no
curso da existência berço-túmulo.
P – Acha que a mamadeira,
dada desde muito cedo à criança, pode criar um clima de artificialismo entre a
mãe e o bebê, suscitando neste uma senda de insegurança que poderia
prolongar-se pela vida a fora?
R – Um assunto para a
pediatria que merece consideração.
P – Por que as crianças
não têm medo da morte?
R – A amnésia parcial ou
total em que se encontra o espírito encarnado no período da infância equivale a
um estado de semi consciência no qual a criança não dispõe de recursos para
raciocínios mais profundos.
P – Há pais que a pretexto
de uma educação liberal e sem tramas preferem nada esconder dos filhos, em
termos de educação sexual. Alguns chegam a tomar banho despidos junto aos
filhos, apesar de que isso poderia suscitar complexos de inferioridade ou
outros. Alguns pais se permitem acariciar seus
rebentos de maneira inconveniente, originando nestes uma espécie de pudor
doentio. Peço consideração sobre isso.
R – Somos partidários do
respeito recíproco entre pais e filhos, adultos e jovens, em todas as fases da
vida. Cada espírito é um mundo por si, com a obrigação de descobrir-se a
aprimorar-se, conquanto deva e possa receber o auxílio de outrem para isso, mas
sempre na base do apreço mútuo.
P – Afirmam os médicos que
uma criança já nascida sente inconscientemente, por intuição ou
telepaticamente, quando seus pais tentam rejeitá-la sendo que tal fato
transparece nos desenhos e criações infantis pois ela considera o fato um
assassínio embora nem justo nem injusto.
R – Verdade. O espírito do
nascituro, mais ou menos conscientemente, conhece as disposições dos pais a seu
respeito.
P – Que é pior para a
criança ou para o adolescente: a violência que vê na televisão ou no cinema, ou
a que presencia ao redor de si?
R – Qualquer violência, em
qualquer lugar e em qualquer tempo, é prejudicial ao autor e aos que lhe
assistem a exteriorização, seja qual for a idade do espectador.
P – No livro Amor e Sexo,
Cap. 21, Emmanuel nos fala dos problemas das minorias sexuais e a necessidade
de respeito fraterno para com esses irmãos em prova. Observa-se na sociedade
atual que a predominante maioria dos heterossexuais habitualmente ridiculariza
aqueles que não lhe seguem a prática, o mesmo acontecendo com certos núcleos
religiosos que vêem o problema sob o prisma de endemonianamento no p!ano da
unicidade da existência. Acha você que, no futuro, as religiões irão
compreender melhor a situação de resgate desses irmãos, amparando-os mais
adequadamente?
R – Em matéria de
relacionamento sexual tão só o tempo com a maturidade espiritual das criaturas
encarnadas na Terra é que solucionará problema da compreensão necessária ao
equilíbrio e segurança dos grupos sociais.
P – De todos os
relacionamentos entre seres humanos (materno-paterno, amistoso, social,
profissional, de companheirismo, etc.), nenhum me parece mais conflitante que o
relacionamento entre homem e mulher. Por que são tão raros os casais que vivem
num clima de harmonia perfeita?
R – O relacionamento entre
os parceiros da vida íntima no lar, na essência, é uma escola ativa de
aperfeiçoamento do espírito. Até que duas criaturas alcancem o amor integral,
uma pela outra, sob todos os aspectos da individualidade, é compreensível o
atrito mais ou menos frequente entre ambas, visando ao burilamento recíproco.
P – Quando um dos cônjuges
não assume a responsabilidade na parte que lhe toca na sustentação do
equilíbrio recíproco, qual a responsabilidade do outro que for buscar fora do
lar vinculações extraconjugais?
R – Alguém que fira outro
alguém, depois dos compromissos afetivos devidamente assumidos em dupla, é
responsável pela lesão psicológica que cause, criando para outrem e para si
mesmo dificuldades que só pelo amparo do tempo conseguirá resgatar.
P – Por que nunca há
divórcio entre os Espíritos sublimados no Bem?
R – Os espíritos sublimados nas leis do Bem aprenderam a amar
sem exigência e a aceitar as pessoas amadas como realmente são ou estão.
(Emmanuel)
Do livro “Janelas para a vida”. De Francisco Cândido Xavier e
Fernando Worm.
Nenhum comentário:
Postar um comentário