“As idéias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos nas
vidas anteriores; a marcha dos povos e da Humanidade, pela ação dos homens dos
tempos idos e que revivem, depois de terem progredido; as simpatias e
antipatias, pela natureza das relações anteriores. Essas relações, que religam
a grande família humana de todas as épocas, dão por base, aos grandes
princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade
universal, as próprias leis da Natureza e não mais uma simples teoria.
“Em vez do postulado: Fora
da Igreja não há salvação, que
alimenta a separação e a animosidade entre as diferentes seitas religiosas e
que há feito correr tanto sangue, o Espiritismo tem como divisa: Fora da Caridade não
há salvação,
isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de
consciência e a benevolência mútua.
“Em vez da fé cega, que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inabalável, senão a que pode encarar face a face a razão, em todas
as épocas da Humanidade.
À fé, uma base se faz necessária e essa base é a inteligência perfeita
daquilo em que se tem de crer. Para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo,
compreender. A fé cega já não é para este século. É precisamente ao dogma da fé
cega que se deve o ser hoje tão grande o número de incrédulos, porque ela quer
impor-se e exige a abolição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio.” (O Evangelho segundo o Espiritismo.)
Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o
último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se
preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas
múltiplas ocupações. Diversas obras que ele estava quase a terminar, ou que
aguardavam oportunidade para vir a lume, demonstrarão um dia, ainda mais, a
extensão e o poder das suas concepções.
Morreu conforme viveu: trabalhando. Sofria, desde longos anos,
de uma enfermidade do coração, que só podia ser combatida por meio do repouso
intelectual e pequena atividade material. Consagrado, porém, todo inteiro à sua
obra, recusava-se a tudo o que pudesse absorver um só que fosse de seus
instantes, à custa das suas ocupações prediletas.
Deu-se com ele o que se dá com todas as almas de forte têmpera:
a lâmina gastou a bainha.
O corpo se lhe entorpecia e se recusava aos serviços que o
Espírito lhe reclamava, enquanto este último, cada vez mais vivo, mais
enérgico, mais fecundo, ia sempre alargando o círculo de sua atividade.
Nessa luta desigual não podia a matéria resistir eternamente. Acabou
sendo vencida: rompeu-se o aneurisma e Allan Kardec caiu fulminado. Um homem
houve de menos na Terra; mas, um grande nome tomava lugar entre os que ilustraram
este século; um grande Espírito fora retemperar-se no Infinito, onde todos os
que ele consolara e esclarecera lhe aguardavam impacientes a volta!
“A morte, dizia, faz pouco tempo, redobra os seus golpes nas
fileiras ilustres!... A quem virá ela agora libertar?”
OBRAS PÓSTUMAS
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