domingo, 18 de setembro de 2016


 
A Casa do Caminho
 
 
Escrito por Sergito de Souza Cavalcanti

A morte injusta e violenta de Jesus deixou seus discípulos abalados e confusos. Decepcionados e com medo do que poderiam lhes suceder, fugiram apavorados. O sofrimento, o sentimento de culpa e a saudade os esmagavam. O Mestre lhes havia ensinado belas lições calcadas na imortalidade da alma e, no entanto, encontravam-se atônitos e confusos com os últimos acontecimentos. O que fazer agora sem a presença de Jesus? Como encontrariam forças para prosseguirem?     
O processo da sua condenação ocorreu de forma rápida e violenta abalando a fé de seus discípulos. Entretanto acontecimentos extraordinários começaram a surgir reforçando assim a esperança dos primeiros cristãos. Jesus triunfando sobre a morte refaz a fé e a esperança de seus discípulos aparecendo para Madalena, Maria de Cleofas e Joana de Cusa, dois dias após sua crucificação.
O chamado Fenômeno de Pentecostes acontecido logo após a ascensão de Jesus veio fortificá-los na fé, trazendo a certeza de que verdadeiramente o Cristo não os havia abandonado. Certo dia pela manhã quando todos estavam juntos num mesmo lugar veio de repente do céu um ruído como de um vento que irrompe impetuoso. A casa, onde estavam reunidos, foi por ele preenchida. E ao mesmo tempo lhes apareceram como que línguas de fogo, que se dividiam e pousavam sobre a cabeça de cada um deles. Todos ficaram mediunizados e começaram a falar em muitas línguas, conforme os espíritos lhes davam o poder de exprimir-se. Pregando o Evangelho em diferentes idiomas, os Espíritos do Senhor demonstravam que se cumpria naquele momento a profecia de Jesus de que sua palavra seria ouvida por todas as nações da Terra. Outro fato comovente acontece com Cléofas e outro discípulo que no domingo da ressurreição caminhavam de Jerusalém para a aldeia próxima de Emaús quando o próprio Jesus se lhes ajuntou no caminho. De outra feita, aparece por duas vezes totalmente materializado numa reunião dos apóstolos em Jerusalém. A seguir se apresenta na praia e come com alguns apóstolos peixe assado e um favo de mel. Por cerca de quarenta dias após a ressurreição, continuou oferecendo provas inequívocas de sua presença materializada entre eles.

Com a certeza da ressurreição de Jesus, ressuscitava também o sonho daqueles homens simples de propagarem, enquanto vivessem a mais linda história de amor trazida ao planeta Terra. Após quarenta dias de convivência espiritual com Jesus, a confiança voltava a reinar forte em seus corações.
Uma força irresistível os impulsionava para a formação de uma bonita fraternidade. Assim juntos, poderiam conjugar os mesmos ideais ensinados e vivenciados por aquele Mestre inesquecível. Logo já encontravam todos reunidos em um local singelo. Jesus era a saudade, mas era também a alegria daquele grupo de homens e mulheres.

Reunidos oravam, cantavam, viviam e pregavam a Boa Nova. As orações eram poderosas, as reuniões se sucediam e o grupo crescia continuamente. Nascia assim a Casa do Caminho marco primeiro daquela fase áurea do cristianismo primitivo.
Os ensinamentos de Jesus ainda falavam muito alto nos corações dos homens do Caminho. Viviam um momento único de espiritualização.

Ernesto "Renan em sua obra "Os Apóstolos" assim descreve este momento áureo do cristianismo:" A terna recordação de Jesus não permitia discussões, a alegria estava em todos os corações viva e profunda... A recordação desses dois ou três primeiros anos ficou sendo como a de um paraíso terrestre, que o Cristianismo desde então procurará em todos os seus sonhos, mas a que debalde se esforçará por voltar."
Pregavam com entusiasmo a Boa Nova, o que era de um era de todos, as orações eram às vezes tão poderosas que o próprio prédio balançava em seus alicerces.

Os crentes iam aumentando. Consolidava-se assim a Primeira Igreja de Jerusalém, a Casa do Caminho marco indelével da fase áurea do Cristianismo dos primeiros tempos.

A vida religiosa dos primeiros cristãos centrava em quatro funções principais: a oração, os sermões, a instrução religiosa e uma refeição diária em comum. Levavam uma vida pobre, despojada, sem confiar no poder do dinheiro; não visavam interesses próprios; curar doentes e expulsar espíritos maus faziam parte da prática profética dos homens do Caminho. Eram íntegros e não se deixavam corromper; proclamavam e exigiam o perdão e o arrependimento das faltas.

Era hábito da igreja que começava ajudar os pobres, especialmente as viúvas. Esta ajuda, que seguia o padrão da tradição judaica, incluía a distribuição de cestas com alimentos e às vezes com algum vestuário.
Não havia na Casa do Caminho nenhum ato litúrgico. Os mais velhos eram muito respeitados e chamados de presbíteros. Gostavam imensamente de jejuar, adoravam cantar, havia um ditado entre eles: "Se estás triste ora; se estás alegre canta."

A Casa do Caminho nasceu da irresistível e natural vontade que todo homem espiritual sente de se unir voluntariamente sob a égide de Jesus, para formar um grupo de pessoas afinizadas com a prece, o estudo, o trabalho e a vivência evangélica. Com estes propósitos fizeram desta Casa uma escola, um hospital, uma oficina de trabalho, um local de oração e comunhão com o Cristo.
Os quatro grandes pilares ou objetivos da Casa do Caminho foram: a) Ensino e vivência da mensagem de Jesus. b) Assistência social cristã c) Curas espirituais d) Formação de ambiente espiritualizantes. Aprenderam com Jesus que nada era mais importante do que o crescimento espiritual de seus membros. Usavam o trabalho assistencial de distribuição de alimentos, de remédios, de roupas e até mesmo os dons de cura como isca para alcançarem o objetivo maior: a evangelização do assistido. Procuravam transformar o
assistido em assistente e foi assim que aconteceu com Jeziel amparado pelos homens do Caminho, o qual veio a ser o maravilhoso Estevão primeiro mártir do cristianismo primeiro.

Os primeiros componentes da Casa do Caminho lutaram como podiam pela autossuficiência e a não submissão financeira da comunidade. Todos trabalhavam e com o fruto de seus trabalhos conseguiam a almejada autossuficiência. Nunca usavam mão do peditório desgastante. Entre eles ninguém passava necessidades. Embora paupérrimos auxiliavam-se mutuamente: quem possuía alguma coisa não deixava faltar nada ao que nada possuía. Formavam assim, uma espécie de socialismo cristão onde a fraternidade, a não submissão e autossuficiência garantiam a liberdade da Casa.
As eleições eram simples e democráticas e todos procuravam servir a causa do Cristo, sem se importarem com cargos de direção. Haviam aprendido, com Jesus, os perigos da vaidade e do personalismo. Pedro como primeiro líder daquele grupo, achou por bem escolher um sucessor para Judas Iscariotes no Colégio Apostólico e reuniu uma assembleia para eleger este sucessor. A assembleia menciona então dois nomes: José Justo e Matias dois cristãos autênticos. Sugeriu-se então ao invés de eleição colocar os dois nomes numa sacola e retirando depois de prece fervorosa, o que fora escolhido pelo Alto. E então Matias foi o escolhido para suceder a Judas Iscariotes. A comunidade vivia um momento tão bonito de entendimento e amor cristão que José Justo que não fora escolhido pelo sorteio, ofertou sua propriedade à Casa do Caminho, em sinal de solidariedade à decisão tomada pelo Plano Superior. Ao invés de disputas entre dois homens bons e leais à causa do Cristo, fizeram uso do bom senso, rogando a Jesus que conhece todos os corações que os ajudassem naquela escolha. O que não fora escolhido, em gesto de submissão e desprendimento, doou o que possuía.

No livro de Atos dos Apóstolos (2:43-47 ) encontramos: " Em todos eles havia profundo respeito e os apóstolos faziam muitas curas. Todos os crentes se reuniam constantemente e repartiam tudo uns com os outros vendendo suas propriedades e dividindo com os que tinham necessidades. Regularmente eles rezavam juntos no Templo, todos os dias reuniam-se em grupos pequenos nas casas e participavam de suas refeições com grande alegria e gratidão a Deus. A cidade inteira tinha simpatias por eles e cada dia o próprio Senhor acrescentava à Igreja todos os que estavam sendo salvos."

Sergito de Souza Cavalcanti. Grupo Espírita de Fraternidade Albino Teixeira de Belo Horizonte e do Grupo Kardecista Fraternidade Eterna de Inhaúma, M.G.

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