Sonetos
1
Tudo passa no mundo. O homem passa
Atrás dos anos sem compreendê-los;
O tempo e a dor alvejam-lhe os cabelos,
À frouxa luz de uma ventura escassa.
Sob o infortúnio, sob os atropelos
Da dor que lhe envenena o sonho e a graça,
Rasga-se a fantasia que o enlaça,
E vê morrer seus ideais
mais belos!...
Longe, porém, das ilusões desfeitas,
Mostra-lhe a morte vidas mais perfeitas,
Depois do pesadelo das mãos frias...
E como o anjinho débil que renasce,
Chora, chora e sorri, qual se encontrasse
A luz primeira dos primeiros dias.
2
Ah!... se a Terra tivesse o amor, se cada
Homem pensasse no tormento alheio,
Se tudo fosse amor, se cada seio
De mãe nutrisse os órfãos... Se na estrada
Do contraste e da dor houvesse o anseio
Do bem, que ampara a
vida torturada,
Que jamais viu um raio de alvorada
Dentro da noite eterna que lhe veio
Do sofrimento que ninguém conhece...
Ah! se os homens se amassem nessa estância
A dor então desapareceria...
A existência seria a ardente prece
Erguida a Deus do seio da abundância,
Entre os hinos da paz e da alegria.
Raimundo Correia
Francisco Cândido Xavier - Parnaso de Além-Túmulo
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