Os mortos falam e a Humanidade
está ansiosa, aguardando a sua palavra.
Conta-se que na guerra
russo-japonesa, terminada a batalha de Tsushima, o grande Togo reuniu os seus
soldados no cemitério de Oogama, e na tristeza majestosa do ambiente. em nome
da nacionalidade, dirigiu-se aos mortos em termos comovedores; concitou-os a
auxiliar as manobras militares, a visitar os cruzadores de guerra, levantando o
ânimo dos companheiros que haviam ficado nas pelejas.
Uma claridade nova cantou as
energias espirituais do valente adversário da pátria de Stoessel e os filhos de
Yoritomo venceram.
Na atualidade, afigura-se-nos que
os brados de todos os sofredores e infelizes da Terra se concentram numa
súplica grandiosa que invade as vastidões como o grito do valoroso almirante.
– De pé, os mortos!... – exclama-se – porque
os vivos da Terra se perdem nos abismos tenebrosos.
Os institutos da Civilização têm
sido impotentes para resolver o problema do nosso ser e dos nossos destinos.
As filosofias e as religiões
estenderam sobre nós o manto carinhoso das suas concepções, mas esses mantos
estão rotos!... Temos frio, temos fome, temos sede!
E os considerados mortos falam ao
mundo na sua linguagem de estranha purificação. A Ciência, zelosa de suas
conquistas, ainda não ouviu a sua vibração misteriosa, mas os filhos do
infortúnio sentem-se envolvidos na onda divina de um novo Glória in excelsis, e
a Humanidade sofredora sente-se no caminho consolador da sublime esperança.
Humberto de Campos
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