JORNADA
Adelino da Fontoura Chaves*
Fui átomo, vibrando entre as forças do Espaço,
Devorando amplidões, em longa e ansiosa espera...
Partícula, pousei... Encarcerado, eu era
Infusório do mar em montões de sargaço.
Por séculos fui planta em movimento escasso,
Sofri no inverno rude e amei na primavera;
Depois, fui animal, e no instinto da fera
Achei a inteligência e avancei passo a passo...
Guardei por muito tempo a expressão dos gorilas,
Pondo mais fé nas mãos e mais luz nas pupilas,
A lutar e chorar para, então, compreendê-las!...
Agora, homem que sou, pelo Foro Divino,
Vivo de corpo em corpo a forjar o destino
Que me leve a transpor o clarão das estrelas!...
(*) Poeta, contista, teatrólogo. Transferindo-se da Atenas
Brasileira para o Rio de Janeiro, cedo percebeu AF que nascera para o
jornalismo. Trabalhou com Artur Azevedo na Gazetinha e com Lopes Trovão no
Combate, e foi agente, em Paris, da Gazeta da Tarde. Patrono da cadeira nº. 1
da Academia Brasileira de Letras e da cadeira nº. 38 da Academia Maranhense de
Letras. Autor de "Beatriz", «Celeste», «Atração e Repulsão» e tantos
outros sonetos famosos, «é ele» – assinala Múcio Leão (in Dispersos, pág. 12) –
«o caso único de um patrono de Academia que não tem nenhum livro publicado».
(Axixá, Maranhão, 80 de Março de 1855 ""' – Lisboa, Portugal, 2 de
Maio de 1884.)
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