Ante a
mediunidade
Reunião pública de 15/1/60
Questão nº 30
No trato da mediunidade, não andemos à cata de louros
terrestres, nem mesmo esperemos pelo entendimento imediato das criaturas.
Age e serve, ajuda e socorre sem recompensa.
Recordemos Jesus e os fenômenos do espírito.
Ainda criança, ele se submete, no Templo, ao exame de homens
doutos que lhe ouvem o verbo com imensa admiração, mas a atitude dos sábios não
passa de êxtase improdutivo.
João Batista, o amigo eleito para organizar-lhe os
caminhos, depois de vê-lo nimbado de luz, em plena consagração messiânica, ante
as vozes diretas do Plano Superior, envia mensageiros para lhe verificarem a
idoneidade.
Dos nazarenos que lhe desfrutam a convivência, apenas
recebe zombaria e desprezo.
Dos enfermos que lhe ouvem o sermão do monte, buscando
tocá-lo, ansiosos, na expectativa da própria cura, não se destaca um só para
segui-lo até à cruz.
Dos setenta discípulos designados para misteres
santificantes, não há lembrança de qualquer deles, na lealdade maior.
Dos seguidores que comeram os pães multiplicados,
ninguém surge perguntando pelo burilamento da alma.
Dos numerosos doentes por ele reerguidos à bênção da
saúde, nenhum aparece, nos instantes amargos, para testemunhar-lhe
agradecimento.
Nicodemos, que podia assimilar-lhe os princípios,
procura-lhe a palavra, na sombra noturna, sem coragem de liberar-se dos preconceitos.
Dos admiradores que o saúdam em regozijo, na entrada
triunfal em Jerusalém, não emerge uma voz para defendê-lo das falsas acusações,
perante a justiça.
Judas, que lhe conhece a intimidade, não hesita em
comprometer-lhe a obra, diante dos interesses inferiores.
Somente aqueles que modificaram as próprias vidas foram
capazes de refleti-lo, na glória do apostolado.
Pedro, fraco, fez-se forte na fé e, esquecendo a si
mesmo, busca servi-lo até à morte.
Maria de Magdala, tresmalhada na obsessão, recupera o
próprio equilíbrio e, apagando-se na humildade, converte-se em mensageira de
esperança e ressurreição.
Joana de Cusa, amolecida no conforto doméstico, olvida
as conveniências humanas e acompanha-lhe os passos, sem vacilar no martírio.
Paulo de Tarso, o perseguidor, aceita-lhe a palavra
amorosa e estende-lhe a Boa-Nova em suprema renúncia.
Não detenhas, assim, qualquer ilusão à frente dos
fenômenos medianímicos.
Encontrarás sempre, e por toda parte, muitas pessoas
beneficiadas e crentes, como testemunhas convencidas e deslumbradas diante
deles; mas, apenas aquelas que transfiguram a si mesmas, aperfeiçoando-se em
bases de sacrifício pela felicidade dos outros, conseguem aproveitá-los no
serviço constante em louvor do bem.
Emmanuel
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