Abrigo
Ideal
E tudo vai
passando, como sempre dizes,
Os dias de
infortúnio e os movimentos felizes.
Tempos de
infância, belos e risonhos
Envaíram-se
todos, tais quais sonhos
Que não
consegues explicar;
O lar de agora
já não te parece
O mesmo antigo
lar
Em que o colo
de mãe, na luz da prece,
Inteiro se te
abria,
Sustentando-te
a paz no clarão da alegria...
Onde ouvir
novamente as vozes que, à noitinha,
Uniam-se-te à
voz inocente a cantar:
- “Oh!
ciranda, cirandinha.
Vamos todos
cirandar!...”
Fitavam-te, na
marcha dos instantes,
Estrelas
cintilantes,
Como a
notar-te o sentimento puro
E a te
indicarem, sem que percebesses,
As estradas
difíceis do futuro.
A juventude
plena de ansiedade
Passou, qual
luminosa floração
E indagas onde
estão
Os planos da
primeira mocidade...
Refletes nas
queridas afeições
No ponto
solitário em que te pões...
Quantos amigos
desertaram
Da senda em que
persistes?
Quantos
julgaram tristes
As tarefas que
abraças?
E largaram-te,
a sós, dizendo-se à procura
Do prazer, do
renome e da ventura?!...
Enquanto
passas,
No serviço de
sempre,
De coração ao
desalinho,
Perguntas,
muitas vezes, quantos lábios
Ouviste transformados
no caminho,
Lábios que te
falavam, ontem, de ternura,
Em promessas
de apoio e de carinho
E hoje te
comunicam amargura,
Acusação,
queixa e censura,
Impondo-te
incerteza e incompreensão?
E os outros
que, em magoada despedida,
Deixaram-te no
mundo, em busca de outra vida,
Dando-te a
inquietação constante que te invade
Pela chama
invisível da saudade?!...
E tudo vai
passando, tal qual dizes,
Os instantes
felizes e infelizes,
Entretanto,
alma irmã, de pés sangrando embora,
Segue amando e
servindo, tempo afora...
Nada te impeça
caminhar
Para a
sublimação que te pede lutar,
Esculpindo, em
ti mesmo, o amor cuja beleza
Palpita em tua
própria natureza.
Não contes
desengano, prova, idade...
Segue e não
temas,
Quem serve
encontra em todos os problemas
Motivação para
a felicidade.
E quando tudo
te pareça
Saudade e
solidão
Na bruma que
te envolva o coração,
Entra no claro
abrigo que reténs,
Que se te faz
no mundo o mais alto dos bens,
Riqueza em luz
e paz que ninguém desarruma
E nunca sofre
alteração alguma...
Esse refúgio
ideal que te descansa
Nos tesouros
de tudo quanto é teu,
É a bênção de
servir que te guarda a esperança
No trabalho do
bem que Deus te concedeu...
MARIA DOLORES
CAMINHOS DO AMOR
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
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