PELOS INIMIGOS DO ESPIRITISMO
50. Bem-aventurados os famintos
de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição
por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus. Ditosos sereis, quando os
homens vos carregarem de maldições, vos perseguirem e falsamente disserem
contra vós toda espécie de mal, por minha causa. – Rejubilai-vos, então, porque
grande recompensa vos está reservada nos céus, pois assim perseguiram eles os
profetas enviados antes de vós. (S. MATEUS, 5:6 e 10 a 12.) Não temais os que
matam o corpo, mas que não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode
perder alma e corpo no inferno. (S. MATEUS, 10:28.) 51. PREFÁCIO. De todas as
liberdades, a mais inviolável é a de pensar, que abrange a de consciência.
Lançar alguém anátema sobre os que não pensam como ele é reclamar para si essa
liberdade e negá-la aos outros, é violar o primeiro mandamento de Jesus: a
caridade e o amor do próximo. Perseguir os outros, por motivos de suas crenças,
é atentar contra o mais sagrado direito que tem todo homem, o de crer no que
lhe convém e de adorar a Deus como o entenda. Constrangê-los a atos exteriores
semelhantes aos nossos é mostrarmos que damos mais valor à forma do que ao
fundo, mais às aparências, do que à convicção. Nunca a abjuração forçada deu a
quem quer que fosse a fé; apenas pode fazer hipócritas. É um abuso da força
material, que não prova a verdade. A verdade é senhora de si: convence e não
persegue, porque não precisa perseguir.
O Espiritismo é uma opinião, uma
crença; fosse (1) até uma religião, por que se não teria a liberdade de se dizer
espírita, como se tem a de se dizer católico, protestante, ou judeu, adepto de
tal ou qual doutrina filosófica, de tal ou qual sistema econômico? Essa crença
é falsa, ou é verdadeira. Se é falsa, cairá por si mesma, visto que o erro não
pode prevalecer contra a verdade, quando se faz luz nas inteligências. Se é
verdadeira, não haverá perseguição que a torne falsa. A perseguição é o batismo
de toda idéia nova, grande e justa e cresce com a magnitude e a importância da
idéia. O furor e o desabrimento dos seus inimigos são proporcionais ao temor
que ela lhes inspira. Tal a razão por que o Cristianismo foi perseguido outrora
e por que o Espiritismo o é hoje, com a diferença, todavia, de que aquele o foi
pelos pagãos, enquanto o segundo o é por cristãos. Passou o tempo das
perseguições sangrentas, é exato; contudo, se já não matam o corpo, torturam a
alma, atacam-na até nos seus mais íntimos sentimentos, nas suas mais caras
afeições. Lança-se a desunião nas famílias, excita-se a mãe contra a filha, a
mulher contra o marido; investe-se mesmo contra o corpo, agravando-se-lhe as
necessidades materiais, tirando-se-lhe o ganha-pão, para reduzir pela fome o
crente. (Cap. XXIII, nos 9 e seguintes.) Espíritas, não vos aflijais com os
golpes que vos desfiram, pois eles provam que estais com a verdade. Se assim
não fosse, deixar-vos-iam tranquilos e não vos procurariam ferir.
Constitui uma prova para a vossa fé, porquanto é pela vossa coragem, pela vossa
resignação e pela vossa paciência que Deus vos reconhecerá entre os seus
servidores fiéis, a cuja contagem ele hoje procede, para dar a cada um a parte
que lhe toca, segundo suas obras. A exemplo dos primeiros cristãos, carregai
com altivez a vossa cruz. Crede na palavra do Cristo, que disse:
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, que deles é o
reino dos céus. Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a
alma.” Ele também disse: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos fazem
mal e orai pelos que vos perseguem.” Mostrai que sois seus verdadeiros
discípulos e que a vossa doutrina é boa, fazendo o que ele disse e fez. A
perseguição pouco durará. Aguardai com paciência o romper da aurora, pois que
já rutila no horizonte a estrela d’alva. (Cap. XXIV, nos 13 e seguintes.)
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Allan Kardec
1 Ver Reformador de 1946, pág. 253; Revue Spirite, de dezembro de 1868; Allan Kardec, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, vol. III, pág. 100. Nota da Editora da FEB
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