À Discípula
Às irmãs da
Escola Jesus Cristo
No tempo de
Jesus, ao pé do Tiberíades, havia uma mulher humilde e pobre, que havia
conhecido o Senhor e se fizera sua amiga devotada, nas horas mais amargas de
sua passagem pela Terra.
Conheciam-na
como a Discípula de Jesus, vivendo das recordações carinhosas e ternas do Cordeiro.
O Mestre
havia expirado na Cruz, seu apóstolos haviam se dispersado no mundo e a
Galiléia era, agora, um deserto verde, cheio de sol, onde o lago famoso era uma
taça de lágrimas cristalinas, vertida pela natureza, em memória d’Aquele que
lhe preferia os encantos singelos, distante das vaidades materiais.
A Discípula,
porém, amava ao Messias e estava ali para servi-lo, com a sua dedicação.
Peregrinos de longe batiam-lhe à choupana agreste, aberta constantemente às
criancinhas e aos desamparados da sorte, com quem repartia o pão minguado de
sua existência honesta.
Se as provas
eram amargas, Jesus era a claridade confortadora de sua vida.
Anos
passaram.
Na sua
região, a Discípula era um símbolo de humildade e de trabalho, de caridade e de
alegria.
Certa tarde,
a filha da Galiléia abandonada sentou-se ao pe de seu casebre triste.
Seu coração,
cansado de bater, recordava na sombra as lições do Messias.
Era a hora
em que a natureza se aquietava, como ovelhinha mansa, para lhe ouvir a palavra
tocada de suava mistério.
Parecia-lhe
rever o Senhor, junto do lago extenso. Sentia-se em retorno à mocidade distante
e inclinava-se ante a Sua figura Inesquecível.
Em dado
instante, contudo, um leve ruído despertou-a. Aproximava-se um mendigo. As
sombras do crepúsculo não lhe permitiram divisar seus traços fisionômicos mas,
os peregrinos eram tantos, que não constituía surpresa recebe-los, no seu pouso
singelo, em todos os instantes do dia.
_ Entra
irmão! _ Exclamou a serva de Jesus, com um sorriso bondoso.
O mendigo
penetrou o humbral, abençoando-a com um olhar de luz, que brilhava entre os
trapos de sua vestidura como uma estrela divina.
A Discípula
deu-lhe pão e um tapete humilde para o repouso das chagas dolorosas que lhe
sangravam o corpo, encorajou-o com palavras de bondade e lhe falou das
bem-aventuranças que o Evangelho do Senhor prometera aos mansos e aos aflitos.
O peregrino
escutou-a com atenção.
_ Vives só?
_ Perguntou ele, com inflexão de ternura.
_ Vivo com
Jesus! _ Respondeu a serva do Senhor, com humildade.
_ E não tens
ninguém no mundo?
_ Quem vive
na fé do Messias Nazareno trabalha e espera em Sua Bondade, com profunda
alegria.
_ Nunca
recebeste as felicidades da Terra?
_ Nunca,
porque espero as do Céu, onde Jesus nos promete as venturas eternas do Seu
Reino.
_ E tens fé?
_ Sim,
porque pelo Senhor troquei todas as alegrias materiais.
O mendigo
observou-a em silêncio, como se, agora, estivesse absorvido em longas
meditações.
_ Tenho
sede! _ Disse ele, em tom de rogativa.
A Discípula
lhe trouxe a água clara e fresca do cântaro.
_ Doem-me as
chagas pela caminhada penosa!... _ Gemeu o peregrino suplicante.
A Discípula
preparou um vaso de água limpa para lavar-lhe as úlceras dolorosas. Sua casa,
porém, era paupérrima e não teria uma toalha conveniente para a operação
necessária. Mas, de repente, lembrou-se que, um dia, observara Madalena
enxugando os pés do Senhor com os anéis dos seus cabelos.
Por que não
faria o mesmo com o desventurado do caminho? Jesus não recolhera todos os
pobres e desventurados da sorte sobre o mundo?
Sem hesitar,
depois de banhar-lhe as chagas sangrentas e doloridas, enxugou-lhe os pés com a
toalha de seus cabelos abundantes, mas, nesse momento, observou que as úlceras
do mendigo tinham sinal dos cravos da cruz!... Surpreendida, levantou o olhar,
mas não viu mais o peregrino triste e esfarrapado... Á sua frente, Jesus de
Nazaré lhe estendia os braços amorosos, aureolado na luz de Sua Majestade
Divina.
_ Mestre!...
_ Exclamou a serva humilde, embriagada de júbilo, com a mais forte das emoções
a estrangular-lhe o peito oprimido.
_ Vem,
filha!... _ Exclamou o Senhor, amparando-a nos braços cariciosos, com o Seu
divino sorriso.
A Discípula
sentiu que a transportavam a um país misterioso e sublime, onde o seu coração
aliviado experimentava o beijo singular de todas as harmonias.
A Galiléia
minúscula era pequenina demais para conter os júbilos de sua alma, no perfumado
caminho, desdobrado no azul do Infinito, ante o sorriso doce das primeiras
estrelas que fulgiam no fundo do firmamento sem fim.
No dia
seguinte, em vão, chamava-se a serva de Deus, no seu tugúrio desalentado, e
ante o seu cadáver singelo que sorria serenamente, compreendeu-se que a
Discípula, conduzida por Jesus, havia partido para as Alegrias Eternas de Seu
Reino.
Nena
("Doutrina e Aplicação", de Francisco
Cândido Xavier, por Espíritos Diversos)
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