Justiça e amor
Reunião
pública de 9/10/59
*Questão nº 876
*Questão nº 876
Sempre
que te reportes à justiça, repara que Deus a fez assistida pelo amor, a fim de
que os caídos não sejam aniquilados.
Terás
contigo a lógica indicando-te os males e o entendimento inspirando-te o necessário
socorro aos que lhes sofrem o assédio.
Onde
passes, compadece-te dos vencidos que contemples à margem...
Muitos
pranteiam as ilusões que lhes trouxeram arrependimento e remorso e muitos se
levantam ainda sobre os próprios enganos, à maneira de trapezistas
inconscientes, ensaiando o último salto ao precipício da morte.
Dir-te-ão
alguns não precisarem de teu consolo, fugindo-te à presença, com receio da
verdade que te brilha na boca, e outros, que descreram do poder renovador do
trabalho, preferem rolar no vício, descendo, mais cedo, os degraus do sepulcro.
Além
deles, porém, surgem outros... Os que desanimaram em plena luta, recolhendo-se
ao frio da retaguarda, os que enlouqueceram de sofrimento, os que perderam a fé
por falta de vigilância, os que se transviaram à mingua de reconforto e os que
se abeiram do suicídio, tomados pelo superlativo do desespero.
Tentando
dar-lhes remédio, ergue o mundo penitenciárias e hospitais, reformatórios e
manicômios; no entanto, para ajudá-los, confere-te o Cristo a flama do amor no
santuário do coração.
Todos
esses padecentes da estrada têm algo para ensinar.
Os
que tombam esmagados de aflição induzem-te ao serviço pelo mundo melhor, e os
que se arrojam a monstruosos delitos falam, sem palavras, em louvor do
equilíbrio de que dispões, auxiliando-te a preservá-lo.
Não
permitas que a justiça de tua alma caminhe sem amor, para que se não converta
em garra de violência.
Ao
pé dos maiores celerados da Terra, Deus colocou mães que amam, embora esses filhos
desditosos de sua bênção lhes transformem a vida em fonte de lágrimas.
Diante,
pois, dos vencidos de todas as condições e de todas as procedências, não
mostres desprezo, nem grites anátema.
Não
lhes conheces a história desde o princípio e não percebes, agora, a causa invisível
da dor que os degrada.
Ora
e auxilia em silêncio, porque não sabes se amanhã raiará teu instante de
abatimento e de angústia, e manda a regra divina façamos aos outros aquilo que
desejamos nos seja feito.
Justiça
sem amor é como terra sem água.
Recorda
que o próprio Cristo, reconhecendo que os vencedores do mundo habitualmente se
inclinam à vaidade – perigosa armadilha para quedas maiores –, preferiu nascer
na palha dos que vagueiam sem rumo, viver na dificuldade dos menos felizes e
morrer na cruz reservada às vítimas do crime e aos filhos da escravidão.
Religião dos Espíritos
Estudos e dissertações em torno da obra
“O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec
Ditado pelo Espírito
Emmanuel
*876. Posto de parte o
direito que a lei humana consagra,
qual a base da justiça, segundo a lei natural?
“Disse o Cristo: Queira cada um para os
outros o que
quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu
Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que
cada um
deseje ver respeitados os seus direitos. Na
incerteza de como
deva proceder com o seu semelhante, em dada
circunstância,
trate o homem de saber como quereria que com
ele
procedessem, em circunstância idêntica. Guia
mais seguro
do que a própria consciência não lhe podia Deus
haver dado.”
Efetivamente, o critério da verdadeira justiça
está em querer
cada um para os outros o que para si mesmo
quereria e não
em querer para si o que quereria para os
outros, o que absolutamente
não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja
quem
deseje o mal para si, desde que cada um tome
por modelo o seu
desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém
desejará para o seu
semelhante senão o bem. Em todos os tempos e
sob o império de
todas as crenças, sempre o homem se esforçou
para que prevalecesse
o seu direito pessoal. A sublimidade da
religião cristã está em
que ela tomou o direito pessoal por base do
direito do próximo.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan Kardec
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