terça-feira, 2 de agosto de 2016

Justiça e amor

Reunião pública de 9/10/59
*Questão nº 876
Sempre que te reportes à justiça, repara que Deus a fez assistida pelo amor, a fim de que os caídos não sejam aniquilados.
Terás contigo a lógica indicando-te os males e o entendimento inspirando-te o necessário socorro aos que lhes sofrem o assédio.
Onde passes, compadece-te dos vencidos que contemples à margem...
Muitos pranteiam as ilusões que lhes trouxeram arrependimento e remorso e muitos se levantam ainda sobre os próprios enganos, à maneira de trapezistas inconscientes, ensaiando o último salto ao precipício da morte.
Dir-te-ão alguns não precisarem de teu consolo, fugindo-te à presença, com receio da verdade que te brilha na boca, e outros, que descreram do poder renovador do trabalho, preferem rolar no vício, descendo, mais cedo, os degraus do sepulcro.
Além deles, porém, surgem outros... Os que desanimaram em plena luta, recolhendo-se ao frio da retaguarda, os que enlouqueceram de sofrimento, os que perderam a fé por falta de vigilância, os que se transviaram à mingua de reconforto e os que se abeiram do suicídio, tomados pelo superlativo do desespero.
Tentando dar-lhes remédio, ergue o mundo penitenciárias e hospitais, reformatórios e manicômios; no entanto, para ajudá-los, confere-te o Cristo a flama do amor no santuário do coração.
Todos esses padecentes da estrada têm algo para ensinar.
Os que tombam esmagados de aflição induzem-te ao serviço pelo mundo melhor, e os que se arrojam a monstruosos delitos falam, sem palavras, em louvor do equilíbrio de que dispões, auxiliando-te a preservá-lo.
Não permitas que a justiça de tua alma caminhe sem amor, para que se não converta em garra de violência.
Ao pé dos maiores celerados da Terra, Deus colocou mães que amam, embora esses filhos desditosos de sua bênção lhes transformem a vida em fonte de lágrimas.
Diante, pois, dos vencidos de todas as condições e de todas as procedências, não mostres desprezo, nem grites anátema.
Não lhes conheces a história desde o princípio e não percebes, agora, a causa invisível da dor que os degrada.
Ora e auxilia em silêncio, porque não sabes se amanhã raiará teu instante de abatimento e de angústia, e manda a regra divina façamos aos outros aquilo que desejamos nos seja feito.
Justiça sem amor é como terra sem água.
Recorda que o próprio Cristo, reconhecendo que os vencedores do mundo habitualmente se inclinam à vaidade – perigosa armadilha para quedas maiores –, preferiu nascer na palha dos que vagueiam sem rumo, viver na dificuldade dos menos felizes e morrer na cruz reservada às vítimas do crime e aos filhos da escravidão.



 
Religião dos Espíritos
Francisco Candido Xavier 
Estudos e dissertações em torno da obra
“O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec
 
Ditado pelo Espírito
Emmanuel



 
*876. Posto de parte o direito que a lei humana consagra,
qual a base da justiça, segundo a lei natural?
 
“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que
quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu
Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um
deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como
deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância,
trate o homem de saber como quereria que com ele
procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro
do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”
Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer
cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não
em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente
não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem
deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu
desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu
semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de
todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse
o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em
que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.
O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan Kardec

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