QUESTÃO DE ÉTICA
Sem a observância ativa e
vigilante dos princípios éticos que o informam, nenhum movimento cultural pode
subsistir, pois estará minado em suas bases pela irresponsabilidade dos
adeptos. O que se evidenciou, no caso da adulteração, desta vez de maneira
ameaçadora e até mesmo arrasadora, foi o estado de alienação em que caiu a
comunidade espírita no tocante às suas responsabilidades doutrinárias. Este não
é um problema superficial, que possamos simplesmente ignorar. É um problema da
mais alta gravidade para todas as organizações humanas. O que a ética espírita
nos ensina é que não devemos confundir o erro com quem o cometeu. Esse é um
princípio superior de ética. Perdoamos o autor ou autores do erro, mas não
podemos tolerar o erro. Este tem de ser corrigido. E os autores que não
revelaram sensibilidade suficiente para se penitenciarem devem ser corrigidos,
sob pena de estimularmos o erro e criarmos no meio doutrinário um clima de
indignidade geral.
Chico Xavier deu-nos uma
prova eloquente desse procedimento. Envolvido indebitamente no caso da
adulteração, por haver sugerido uma modificação em tradução que lhe parecia
embaraçosa, sentiu-se responsável pelo crime e assumiu de pronto a sua
responsabilidade total. Logo mais passado o estado emocional que o confundira,
ao tomar consciência da distância que havia entre a sua sugestão e a intenção
dos adulteradores, voltou a público para condenar a desfiguração dos textos
kardequianos e retificar a sua posição. Jamais ele podia ter pensado em admitir
a adulteração, pois com isso negaria todo o seu passado de cerca de meio século
de fidelidade e respeito absoluto a Kardec.
O exemplo da desfiguração do
Cristianismo é suficiente para nos mostrar os perigos a que fomos expostos.
Essa desfiguração foi tão profunda que levou as igrejas a transformarem Jesus
em mito e promoverem perseguições e matanças vandálicas em nome do Mestre e de
Deus. Não basta esse terrível exemplo histórico, essa catástrofe moral que
redundou na expansão do ateísmo e do materialismo na Terra, para advertir os
espíritas, que se colocam sob a égide do Espírito da Verdade, quanto ao perigo
da frouxidão moral no campo doutrinário? Queremos, por comodismo e em nome de
interesses imediatistas, deixar que a irresponsabilidade deturpe também o
Cristianismo Redivivo que o Espiritismo nos traz, mergulhando novamente a Terra
em milênios de trevas? Se não lutarmos pela intangibilidade e a pureza da
Doutrina, o que é que desejamos divulgar, oferecer, ensinar aos outros,
pessoalmente e através de nossas instituições? As nossas ideias imprecisas e
muitas vezes absurdas, as nossas pretensões orgulhosas, a pseudo sabedoria da
nossa vaidade, as nossas lamentáveis deficiências em todos os sentidos?
NA HORA DO TESTEMUNHO
Francisco Candido Xavier e J. Herculano
Pires
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