Renunciação
Abandonar
pai e mãe, a fim de nos confiarmos à perfeita integração com o Cristo, não
será, de modo algum, a negação de nossos deveres domésticos, o esquecimento do
nosso débito para com os progenitores e nem o deliberado abandono das nossas
obrigações em família, para nos entregarmos ao desvario da delinquência.
A
verdadeira renúncia não é desistência da luta edificante e, sim, o trabalho silencioso
no auxílio àqueles que nos propomos auxiliar ou salvar.
Quem
renuncia com Jesus não se ausenta da paisagem de serviço onde a vida lhe impõe
dificuldades amargas e problemas difíceis, mas permanece fiel ao Mestre, no
quadro de provações em que lhe cabe exercitar a humildade e a paciência, aprendendo
a apagar-se na esfera do próprio "eu" para o justo soerguimento daqueles
que o cercam.
Quem
sinceramente abandona os pontos de vista inferiores, desvencilhando-se das
pesadas algemas do egoísmo inquietante, sob a inspiração do Evangelho, guarda
os ensinamentos recebidos e auxilia aos parentes e amigos, afeiçoados e conhecidos,
com desvelo e segurança.
O
Apóstolo, aliás, nos adverte: "Se não sabemos amar ao irmão que se encontra
mais próximo de nós, como poderemos amar a Deus que se encontra distante?"
Se não
amparamos ao companheiro que vemos, como conseguiremos auxiliar aos anjos que
ainda não podemos ver?
Em
matéria de renunciação não nos esqueçamos do exemplo do Senhor. Vilipendiado,
escarnecido, dilacerado e crucificado, Jesus renuncia ao contentamento de
permanecer em seu Divino Apostolado na Galiléia, aceitando o extremo sacrifício,
mas, ao terceiro dia, depois do transe da morte, sob a Eterna Claridade da
Ressurreição, ei-lo que volta aos beneficiários indiferentes e aos discípulos
enfraquecidos, revelando a qualidade do seu Amor Excelso e Sublime pela
Humanidade inteira.
Abandonar
os que convivem conosco, portanto, por amor ao Evangelho, é calar os pruridos
de nossa personalidade exclusivista e gritante, para ser-lhes mais úteis, no
anonimato da compreensão e da caridade.
Para
seguirmos ao Cristo não basta esquecer o mal e sim plantar sobre a ignorância e
sobre a penúria que o produzem, a lavoura divina do verdadeiro bem.
Emmanuel
Nenhum comentário:
Postar um comentário