A resposta celeste
Solicitando Bartolomeu
esclarecimentos quanto às respostas do Alto às súplicas dos homens, respondeu
Jesus para elucidação geral:
— Antigo instrutor dos
Mandamentos Divinos ia em missão da Verdade Celeste, de uma aldeia para outra,
profundamente distanciadas entre si, fazendo-se acompanhar de um cão amigo,
quando anoiteceu, sem que lhe fosse possível prever o número de milhas que o
separavam do destino.
Reparando que a solidão em
plena Natureza era medonha, orou, implorando a proteção do Eterno Pai, e
seguiu.
Noite fechada e sem luar,
percebeu a existência de larga e confortadora cova, à margem da trilha em que
avançava, e acariciando o animal que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se
e dormir. Começou a instalar-se, pacientemente, mas espessa nuvem de moscas
vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o a retomar o caminho.
O ancião continuou a
jornada, quando se lhe deparou volumoso riacho, num trecho em que a estrada se
bifurcava. Ponte rústica oferecia passagem pela via principal, e, além dela, a
terra parecia sedutora, porque, mesmo envolvida na sombra noturna, semelhava-se
a extenso lençol branco.
O santo pregador pretendia
ganhar a outra margem, arrastando o companheiro obediente, quando a ponte se
desligou das bases, estalando e abatendo-se por inteiro.
Sem recursos, agora, para
a travessia, o velhinho seguiu pelo outro rumo, e, encontrando robusta árvore,
ramalhosa e acolhedora, pensou em abrigar-se, convenientemente, porque o
firmamento anunciava a tempestade pelos trovões longínquos. O vegetal
respeitável oferecia asilo fascinante e seguro no próprio tronco aberto.
Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar tão forte que o tronco
vigoroso caiu, partido, sem remissão.
Exposto então à chuva, o
peregrino movimentou-se para diante.
Depois de aproximadamente
duas milhas, encontrou um casebre rural, mostrando doce luz por dentro, e
suspirou aliviado.
Bateu à porta. O homem
ríspido que veio atender foi claro na negativa, alegando que o sítio não
recebia visitas à noite e que não lhe era permitido acolher pessoas estranhas.
Por mais que chorasse e
rogasse, o pregador foi constrangido a seguir além.
Acomodou-se, como pôde,
debaixo do temporal, nas cercanias da casinhola campestre; no entanto, a breve
espaço, notou que o cão, aterrado pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar,
perdendo-se nas trevas.
O velho, agora sozinho,
chorou angustiado, acreditando-Se esquecido por Deus e passou a noite ao
relento. Alta madrugada, ouviu gritos e palavrões indistintos, sem poder
precisar de onde partiam.
Intrigado, esperou o
alvorecer e, quando o Sol ressurgiu resplandecente, ausentou-se do esconderijo,
vindo a saber, por intermédio de camponeses aflitos, que uma quadrilha de
ladrões pilhara a choupana onde lhe fora negado o asilo, assassinando os
moradores.
Repentina luz espiritual
aflorou-lhe na mente.
Compreendeu que a Bondade
Divina o livrara dos malfeitores e que, afastando dele o cão que uivava, lhe
garantira a tranqüilidade do pouso.
Informando-Se de que
seguia em trilho oposto à localidade do destino, empreendeu a marcha de
regresso, para retificar a viagem, e, junto à ponte rompida, foi esclarecido por
um lavrador de que a terra branca, do outro lado, não passava de pântano
traiçoeiro, em que muitos viajores imprevidentes haviam sucumbido.
O velho agradeceu o
salvamento que o Pai lhe enviara e, quando alcançou a árvore tombada, um
rapazinho observou-lhe que o tronco, dantes acolhedor, era conhecido covil de
lobos.
Muito grato ao Senhor que
tão milagrosa-mente o ajudara, procurou a cova onde tentara repouso e nela
encontrou um ninho de perigosas serpentes.
Endereçando infinito
reconhecimento ao Céu pelas expressões de variado socorro que não soubera
entender, de pronto, prosseguiu adiante, são e salvo, para desempenho de sua
tarefa.
Nesse ponto da curiosa
narrativa, o Mestre fitou Bartolomeu demoradamente e terminou:
— O Pai ouve sempre as
nossas rogativas, mas é preciso discernimento para compreender as respostas
dEle e aproveitá-las.
JESUS NO LAR
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
DITADO PELO ESPÍRITO NEIO LÚCIO
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