Mãe, não chore mais
Antonio
Querida Mamãe:
Peço ao seu
carinho me abençoe como sempre.
Com o auxílio
de Jesus, estou ao seu lado, continuando no abençoado esforço da prece, para
conquistar humildade, paz, fortaleza e compreensão diante da Divina Vontade.
Suas
manifestações de carinho, nos pensamentos de todos os dias, ajudam-me a restauração
gradual.
Quando me
volto para os dias que se foram, ocupando a mente com as lembranças do círculo
de lutas que deixei, a aflição ainda me domina; contudo, se me empenho em conservara
esperança, tudo se modifica.
Neste meu novo
mundo, o sentimento é mais vivo que as palavras. No corpo, às vezes, falamos,
em muitas ocasiões, daquilo que realmente não estamos sentindo; mas na vida de
nossa alma, o coração parece caminhar à frente de nós. Não é possível ocultar,
como aí acontece, o que nos vai por dentro. Por isso, tenho tido muito cuidado
comigo mesmo, para não perder as lições.
Até certo
ponto, creia à senhora, que a minha situação é a de um menino recém chegado na
escola, com muita cautela no próprio comportamento para errar o menos possível.
A senhora não
imagina o bem que me fizeram os estudos ligeiros que pude realizar, dentro do
Espiritismo, nos meus tempos últimos.
Aí, por várias
vezes, me surpreendi, indagando de mim mesmo por que sentia tão de repente
inclinado à fé! Perguntava se meus impulsos nesse terreno não eram apenas o
propósito de cooperar com a senhora ou se algo me renovava instintivamente para
a vida espiritual!...
Hoje, vejo
melhor.
Nossos amigos
preparam-me o regresso, e, generosos, não se resignaram a sentir-me desabrigado
no temporal.
Nossas
orações, nossas palestras, leituras e reuniões, tudo, tudo que nós dois
vivíamos com tanto encantamento e fervor, agora constitui para mim uma espécie
de valioso crédito espiritual que vou gastando aos poucos, na construção do meu
futuro diferente.
A senhora
guiou-me na Terra, auxiliando-me a entrar na luta e, com as suas virtudes de
heroína de Cristo, no lar, ajudou-me a sair dela, no rumo da Vida Maior.
Mamãe, como
lhe sou reconhecido!
Um dia, com o
socorro de Deus, conseguirei retribuir à senhora tantas bênçãos.
Até lá, não se
incomode pelo aumento incessante de minhas dívidas.
Preciso ainda
e sempre do seu apoio e da sua coragem para batalhar e vencer.
Batalhar com a
minha própria natureza para vencer os inimigos que ainda trago dentro de mim;
e, vencendo-os, ao preço de meu esforço, poder servir a Jesus, como agora
desejo com todas as fibras do meu coração.
Não chore
mais, peço-lhe.
Seus olhos
confiantes não podem nublar-se para que seus filhos não errem a estrada.
Não se
acredite sozinha ou menos feliz.
Admito que hoje
posso dar-lhe alegrias mais nobres e mais seguras, que aquelas de minha permanência
na carne.
Tudo passa,
Mamãe!
O corpo é
assim como leve casca de noz em que viajamos no furioso mar das provas
terrestres. Tudo se altera quando menos esperamos.
Tenhamos,
contudo, nossa fé concentrada em Jesus e caminhemos!
Agradeço, por
intermédio da senhora, aos nossos amigos, os preciosos recursos com que me amparam,
em minha nova fase de luta. A amizade é uma fonte de água cristalina, a
refazer-nos as energias na longa peregrinação espiritual para Jesus.
Mamãe, confio
na senhora, em sua fé, em sua compreensão e em seu valor.
Do Alto, virá
o suprimento de forças e bênçãos de que necessitamos.
Minhas
lembranças e saudades a todos.
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