Chico Xavier em Entrevista
Carlos A
Baccelli
Verificando os
nossos arquivos, encontramos uma entrevista concedida pelo nosso Chico ao
repórter Nadir Roberto, publicada no “Jornal de Piracicaba”, em 07 de dezembro
de 1971.
Cremos que,
para a maioria dos nossos confrades, esta entrevista permanece inédita, daí o
osso interesse em divulgá-la nas páginas de “A Flama Espírita”.
Sem dúvida,
enriquecerá os nossos conhecimentos com as palavras sempre esclarecedoras
daquele que se tem mostrado, ao longo do tempo, um incansável servidor de Jesus
nas bênçãos do Espiritismo.
Nadir Roberto
-Senhoras e
senhores ouvintes e leitores de “Missão Impossível”. Domingo, rumamos para
Araras onde procuramos ouvir Francisco Cândido Xavier.
Foi um
acontecimento de excepcional importância para o mundo espírita brasileiro.
Chico Xavier, figura de maior expressão no campo da psicografia, compareceu à
cidade de Araras para participar de uma Tarde de Autógrafos, que se destinou ao
lançamento do “Anuário Espírita, no. 9” ,
isto em português, pois o primeiro “Anuário” escrito em Castelhano foi editado
na cidade de Araras, pelo Grupo Espírita “Sayon”.
Este é uma
entidade espírita de suma importância, que tem realizado obras de assistência
social de grande vulto, como o Albergue Noturno, onde se alimentam quinhentas
pessoas por dia e mantém ainda ambulatório dentário, etc.
Francisco
Cândido Xavier compareceu em Araras quando o auditório do Grupo Espírita “Sayon”
estava literalmente tomado.
Não só o
auditório, como todas as dependências dessa entidade.
Grande número
de pessoas das mais diferentes cidades ficou do lado de fora aguardando uma
oportunidade de, pelo menos, ver o famoso médium.
Com muito
esforço, sacrifício e astúcia, conseguimos realizar esta entrevista que, até
aqui, se constituiu na mais difícil de toda nossa longa jornada, não por parte
de Chico Xavier, que é uma pessoa boa, humilde e um autêntico homem que
transmite amor e fraternidade. Mas conseguimos os nossos intento, e eis aqui a
entrevista na ocasião em que o cumprimentamos, em nome dos ouvintes da Rádio
Difusora e dos leitores do “Jornal de Piracicaba”.
Francisco
Cândido Xavier
-Através da
Rádio Difusora e do “Jornal de Piracicaba”, nós estamos enviando um abraço
fraternal a todos os nossos companheiros da região, pedindo a Deus que nos
abençoe e nos dê a todos amparo e recursos suficientes para que as nossas
forças estejam ao nível de nossas tarefas.
Sem dúvida, eu
não tenho o dom da oratória, como quer o nosso amigo entrevistador, mas
deixamos consignado aqui o nosso abraço de fraternidade a todos os amigos ouvintes
e leitores.
Nadir Roberto
-O Reverendo
Cyrus Dawsey, Pastor da Igreja Metodista de Piracicaba, lhe faz esta pergunta,
através do nosso programa:
-Se a
reencarnação é tão evidente e de grande importância na vida do homem e do
mundo, por que Jesus não deu maior importância ao assunto?
Francisco
Cândido Xavier
-Cremos que o
Divino Mestre deu importância fundamental à Vida Eterna. Cada existência nossa
é naturalmente um passo para a conquista da imortalidade sublimada.
Imortais;
somos todos, filhos de Deus, mas a sublimação é naturalmente aquele coroamento
necessário que tão só ao nosso burilamento espiritual se pode atribuir.
Muitas vezes,
autoridades religiosas atribuem outra interpretação às palavras do Senhor,
quando Ele disse a Nicodemos:
-“Necessário
vos é nascer de novo”.
Sim, nascer de
novo todos os dias, nascer de novo todas as semanas, de ano para ano, de etapa
para etapa, mas também de vida em vida, de berço em berço.
Nadir Roberto
-O Bispo
Diocesano de Piracicaba, Dom Aniger Francisco de Maria Melilo, solicitou que
fizéssemos esta pergunta:
-Como o senhor
interpreta a carta de São Paulo aos Hebreus, que diz:
“-Os homens morrem
uma só vez, e depois haverá um julgamento”.
(hebreus,
Capítulo 9, Versículo 27).
Francisco
Cândido Xavier
-Temos
interpelado, com a devida reverência, a Benfeitores Espirituais sobre esta passagem
da Epístola de Paulo aos Hebreus.
Eles afirmam
que o Apóstolo se refere à morte da nossa personalidade inferior.
Nós todos
temos conosco um conteúdo psicológico, que representa aquela sedimentação de
qualidade primitiva de que nos desfaremos, um dia, através das reencarnações.
Então,
realmente, morremos uma só vez, vamos deixar para sempre aquele homem velho a
que se referem os nossos filósofos, querendo nos dizer que todos nós precisamos
de renovação permanente para alcançar a sublimação na Vida Eterna.
Nadir Roberto
-Gostaríamos
que fizesse duas perguntas, uma para o Pastor Cyrus Dawsey e outra para o Bispo
Dom Aniger Francisco de Maria Melilo.
Francisco
Cândido Xavier
-Sinceramente,
com muito respeito ao pastor Cyrus Dawsey e ao estimado Bispo, Dom Aniger
Francisco de Maria Melilo, devemos dizer que a nossa veneração por eles é total,
porque se encontram na direção de rebanhos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e tão
somente a nós competem o respeito e o acatamento à autoridade que o Senhor
conferiu a eles, diante da comunidade cristã.
Não temos
pergunta alguma, porque seria, de nossa parte, naturalmente, quase que um
desrespeito, um desconhecimento da autoridade com que devemos reverenciar,
tanto nos Pastores da Comunidade Evangélica, quanto nos Bispos e Arcebispos da
Igreja Católica, que consideramos como sendo mãe da civilização do Ocidente.
Cabe a nós
ouvi-los, respeita-los, informar o que nos é possível, dentro da nossa pequenez,
em se referindo a mim, que me reconheço demasiadamente insignificante para
tratar destes assuntos.
Nossos
respeitos ao Pastor e ao Bispo, pedindo a ambos, se lhes forem possíveis, me
auxiliarem com as bênçãos das suas orações, em meu favor.
Nadir Roberto
-O que acha,
Chico Xavier, dos médicos que não acreditam na Espiritualidade.
Alguns
neurologistas e psiquiatras acham, que o nosso cérebro é norteado por eletricidade,
e que as emoções fracas ou fortes é que determinam o nosso comportamento.
Francisco
Cândido Xavier
-São assuntos
de Ciência que nós acatamos e que, naturalmente, terão resposta quando tivermos
evoluído suficientemente para nos encontrar nas grandes definições da Vida Eterna,
tanto a Ciência quanto a Religião.
Cada criatura,
cada coletividade tem um fragmento da Verdade, uns mais, outros menos...
Um dia,
chegaremos todas à meta; que é o nosso encontro com a Verdade Integral.
Nadir Roberto
-Por que hoje
se fala pouco de Zé Arigó?
Qual a
diferença do senhor como Zé Arigó, concernente à espiritualidade dotada a cada
um?
Francisco
Cândido Xavier
-Não posso
saber, porque não me sinto digno de consideração alguma e respeito Arigó como
sendo um grande medianeiro da Espiritualidade.
Nadir Roberto
Gostaríamos de
dizer ao senhor que fazemos esta pergunta com o máximo respeito, para
esclarecer certas pessoas mal informadas.
Os principais
hospitais psiquiátricos são de origem espírita. Então, a grande pergunta é se o
Espiritismo leva à loucura e se a loucura leva ao Espiritismo...
Francisco
Cândido Xavier
-Não creio que
a loucura leve alguém ao Espiritismo, nem que o Espiritismo leve alguém à
loucura.
O
desequilíbrio mental pode surgir em qualquer pessoa ou em qualquer grupo social.
Cremos que, em
vista de a Psiquiatria ser uma Ciência nova, integrada no quadro da Medicina,
que é uma Ciência antiga, naturalmente que os psiquiatras encontraram os espíritas
muitos interessados em auxiliar aos irmãos portadores de processos obsessivos.
Mas, graças a
Deus, temos hoje, em todos os países, grandes médicos psiquiatras que podem
perfeitamente definir as fronteiras entre obsessão e enfermidade mental.
Esse serviço
de regeneração da saúde humana e os cristãos, como quaisquer criaturas,
quaisquer samaritanos da vontade, podem auxiliar nesse grande empreendimento de
socorro aos que sofrem.
(A Flama
Espírita – Uberaba, Minas, 19 de novembro de 1988).
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