segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


Num Domingo de Calor

Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Espíritas Cristãs, de Araçatuba, no Estado de São Paulo, foi convidada para uma reunião de damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de assistência. E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes mentais, não pode esquivar-se.

Entretanto, a presença da conhecida missionária
causava espécie.

O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto mantô de lã, a
penas compreensível em tempo de frio.

– Mania! – cochichava alguém, à pequena distância.

– De tanto lidar com
malucos, a pobre espírita enlouqueceu... – dizia elegante senhora à companheira de poltrona, em tom confidencial.

– Isso é pura vaidade, – falou outra – ela quer parecer diferente.

– Caso de
obsessão! – certa amiga lembrou em voz baixa.

– Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e de
amor.


Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembléia, a presidente alegou que Benedita suava por todos os poros, e, em
razão disso, rogou a ela que tirasse o mantô por gentileza.

Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com
humildade e só aí as damas presentes puderam ver que a mulher admirável, que sustentava em Araçatuba dezenas de enfermos, com o suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de chitão com remendos enormes.

IRMÃO X

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