Viagens ao Espaço
Irmão X
Falas,
entusiasticamente, em habitantes de outros mundos, como se não estivéssemos
habituados à experiência espírita.
Ante a evolução dos
projéteis balísticos, referes-te às criaturas de Marte e Júpiter, Vênus e
Saturno, com o êxtase de uma criança. E pensas em alterações e reviravoltas
milagrosas, como se a tela moral do orbe pudesse modificar-se de momento.
Lembra-te, porém, de
que a vida estua, vitoriosa, em toda à parte, e de que a própria gota d’água é
um pequenino mundo, povoado por miríades de seres dos quais o microscópio nos
proporciona ampla notícia.
Cada esfera quanto
cada paisagem é habitada a seu modo. E todos nós, amigos desencarnados,
formulamos votos para que o homem, nosso irmão, continue devassando
pacificamente o espaço, surpreendendo novas características de vida no reino
cósmico. Nota, entretanto, que há mais de um século os homens que “morreram”
chamam, debalde, a atenção dos homens que “vão morrer”. E gritam que a vida
continua para lá do sepulcro, que a matéria se gradua em outros estados
diferentes daquele pelo qual é conhecida na Terra.
Convidados à
verificação da verdade, sábios eminentes como Crookes, Myers, Morselli,
Ochorowiez, Aksakof, Lodge, empenham a própria autoridade, trazendo a lume
observações e declarações indiscutíveis.
Médiuns consagrados
ao bem colaboram na difusão dos novos conhecimentos. Home, Eusápia, Esperance,
Piper, sem nos reportarmos às irmãs Fox, submetem-se a exigências constantes.
Os espíritos são
vistos, ouvidos, apalpados, fotografados e identificados, mas, porque os
medianeiros permanecem naturalmente unidos à mensagem, como o violino ao
musicista, o notável pesquisador constrói com tal sutileza a sua filosofia da
dúvida, que a Doutrina Espírita estaria transfigurada simplesmente em vasto
laboratório de intermináveis experimentos, não fosse a legião de bravos que lhe
sustentam o estandarte de amor e luz, como autênticos vanguardeiros do
progresso, junto da Humanidade.
Ainda assim, apesar
de todos os empeços, avança a evidência do Mundo Espiritual.
Nos países mais
cultos do Globo os fenômenos do Evangelho vão sendo revividos, imprimindo
consequências morais por toda parte. Os assuntos da sobrevivência são reexaminados.
Outros médiuns chegam
à sementeira das grandes revelações e o movimento prossegue, anunciando a
continuação da vida no Além.
O problema, contudo,
é tão fascinante que até mesmo os espíritos, privilegiados do entendimento,
manuseiam-lhe os valores como quem lhe desconhece a grandeza. Permanecem na
realidade fulgurante, à maneira do homem comum à frente do Sol. À força de
recolher-lhe, gratuitamente, a vitalidade e o calor, se esquece de
agradecer-lhe a presença.
Não precisa
perguntar-nos, assim com esse ar de encantamento, se pode habilitar-se a uma
excursão até Vênus ou Marte, em época próxima. Queiras ou não, farás, como nós
já o fizemos, uma viagem muito pais importante. Mesmo que bebas soros de
longevidade, com geléia real de contrapeso, conforme as usanças do século,
apresentarás as tuas despedidas no momento adequado.
Creias ou não creias,
conhecerás cidades prodigiosas e ninhos abismais, superlotados de gente que
sente e pensa como tu. Não precisarás, para isso, tripular um foguete em
velocidade. Virás mesmo na barca do velho Caronte.
Nem alarme, nem
propaganda. Para os homens, nossos irmãos na Terra, estarás em silencia.
Mas teus olhos
verdadeiros mostrar-se-ão percucientes por trás da fronte marmórea e a tua voz
se levantará, renovada, por cima da boca hirta. Tão logo comece a romagem,
dirão no mundo que estás morto.
Pensa nisso para
acostumar-te, desde agora, às dificuldades com que te haverás, depois, para
seres recebido entre os homens.
De qualquer modo,
porém, encontrarás na Doutrina Espírita todos os recursos necessários à grande
preparação. Se respeitada, ela te será precioso passaporte, laboriosamente
adquirido, para que te dirijas, tranquilo, aos domínios maravilhosos que desejas
conhecer. E essa circunstância; no caso, é a mais expressiva de todas, porque,
se podes chegar hoje, em carne e osso, a planetas diversos do nosso, a fim de
observares o que é dos outros para morreres em seguida, amanhã desembarcarás
nos planos da Vida Maior, em espírito e verdade, para receberes o que te
pertence.
HISTÓRIAS E ANOTAÇÕES
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
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