Amável de Menezes Sá, estudiosa e admiradora do trabalho incansável do apóstolo Paulo de Tarso. |
Ama, Trabalha, Espera e Perdoa
— Ama! — respondeu Abigail espontaneamente.
— Trabalha! — esclareceu a noiva amada, sorrindo bondosamente.
Abigail tinha razão. Era necessário realizar a obra de aperfeiçoamento interior. Desejava ardentemente fazê-lo. Para isso insulara-se no deserto, por mais de mil dias consecutivos.
Que providências adotar contra o desânimo destruidor?
— Espera! — disse ela ainda, num gesto de terna solicitude, como quem desejava esclarecer que a alma deve estar pronta a atender ao programa divino, em qualquer circunstância, extreme de caprichos pessoais.
Abigail apertou-lhe as mãos com mais ternura, a indicar as despedidas, e acentuou docemente:
— Perdoa!...
Em seguida, seu vulto luminoso pareceu diluir-se como se fosse feito de fragmentos de aurora.
Empolgado pela maravilhosa revelação, Saulo viu-se só, sem saber como coordenar as expressões do próprio deslumbramento. Na região, que se coroava de claridades infinitas, sentiam-se vibrações de misteriosa beleza. Aos seus ouvidos continuavam chegando ecos longínquos de sublimes harmonias siderais, que pareciam traduzir mensagens de amor, oriundas de sóis distantes... Ajoelhou-se e orou! Agradeceu ao Senhor a maravilha das suas bênçãos. Daí a instantes, como se energias imponderáveis o reconduzissem ao ambiente da Terra, sentiu-se no leito rústico, improvisado entre as pedras. Incapaz de esclarecer o prodigioso fenômeno, Saulo de Tarso contemplou os céus, embevecido.
O infinito azul do firmamento não era um abismo em cujo fundo brilhavam estrelas... A seus olhos, o espaço adquiria nova significação; devia estar cheio de expressões de vida, que ao homem comum não era dado compreender. Haveria corpos celestes, como os havia terrestres. A criatura não estava abandonada, em particular, pelos poderes supremos da Criação. A bondade de Deus excedia a toda a inteligência humana. Os que se haviam libertado da carne voltavam do plano espiritual por confortar os que permaneciam a distância. Para Estevão, ele fora verdugo cruel; para Abigail, noivo ingrato. Entretanto, permitia o Senhor que ambos regressassem à paisagem caliginosa do mundo, reanimando-lhe o coração. A existência planetária alcançava novo sentido nas suas elucubrações profundas. Ninguém estaria abandonado, Os homens mais miseráveis teriam no céu quem os acompanhasse com desvelada dedicação. Por mais duras que fossem as experiências humanas, a vida, agora, assumia nova feição de harmonia e beleza eternas.
Experimentando uma paz até então desconhecida, acreditou que renascia naquele momento para uma existência muito diversa. Singular serenidade tocava-lhe o espírito. Uma compreensão diferente felicitava-o para o reinício da jornada no mundo. Guardaria o lema de Abigail, para sempre. O amor, o trabalho, a esperança e o perdão seriam seus companheiros inseparáveis. Cheio de dedicação por todos os seres, aguardaria as oportunidades que Jesus lhe concedesse, abstendo-se de provocar situações, e, nesse passo, saberia tolerar a ignorância ou a fraquezas alheias, ciente de que também ele carregava um passado condenável, que, nada obstante, merecera a compaixão do Cristo.
Abigail, por sua vez, apertava-lhe as mãos com imensa ternura. O
ex-rabino desejaria prolongar a deliciosa visão para o resto da vida,
manter-se junto dela para sempre; contudo, a entidade querida esboçava um gesto
de amoroso adeus. Esforçou-se, então, por catalogar apressadamente suas necessidades
espirituais, desejoso de ouvi-la relativamente aos problemas que o defrontavam.
Ansioso de aproveitar as mínimas parcelas daquele glorioso, fugaz minuto, Saulo
alinhava mentalmente grande número de perguntas. Que fazer para adquirir a
compreensão perfeita dos desígnios do Cristo?
— Ama! — respondeu Abigail espontaneamente.
Mas, como proceder de modo a enriquecermos na virtude divina? Jesus
aconselha o amor aos próprios inimigos. Entretanto, considerava quão difícil
devia ser semelhante realização. Penoso testemunhar dedicação, sem o real
entendimento dos outros. Como fazer para que a alma alcançasse tão elevada
expressão de esforço com Jesus-Cristo?
— Trabalha! — esclareceu a noiva amada, sorrindo bondosamente.
Abigail tinha razão. Era necessário realizar a obra de aperfeiçoamento interior. Desejava ardentemente fazê-lo. Para isso insulara-se no deserto, por mais de mil dias consecutivos.
Todavia, voltando ao ambiente do esforço coletivo, em cooperação com
antigos companheiros, acalentava sadias esperanças que se converteram em
dolorosas perplexidades.
Que providências adotar contra o desânimo destruidor?
— Espera! — disse ela ainda, num gesto de terna solicitude, como quem desejava esclarecer que a alma deve estar pronta a atender ao programa divino, em qualquer circunstância, extreme de caprichos pessoais.
Ouvindo-a, Saulo considerou que a esperança fora sempre a companheira
dos seus dias mais ásperos. Saberia aguardar o porvir com as bênçãos do
Altíssimo. Confiaria na sua misericórdia. Não desdenharia as oportunidades do
serviço redentor. Mas... os homens? Em toda parte medrava a confusão nos
espíritos. Reconhecia que, de fato, a concordância geral em torno dos ensinamentos
do Mestre Divino representava uma das realizações mais difíceis, no
desdobramento do Evangelho; mas, além disso, as criaturas pareciam igualmente
desinteressadas da verdade e da luz. Os israelitas agarravam-se à Lei de
Moisés, intensificando o regime das hipocrisias farisaicas; os seguidores do
“Caminho” aproximavam-se novamente das sinagogas, fugiam dos gentios, submetiam-se,
rigorosamente, aos processos da circuncisão. Onde a liberdade do Cristo? Onde
as vastas esperanças que o seu amor trouxera à Humanidade inteira, sem exclusão
dos filhos de outras raças? Concordavam em que se fazia indispensável a mar,
trabalhar, esperar; entretanto, como agir no âmbito de forças tão
heterogêneas? Como conciliar as grandiosas lições do Evangelho com a
indiferença dos homens?
Abigail apertou-lhe as mãos com mais ternura, a indicar as despedidas, e acentuou docemente:
— Perdoa!...
Em seguida, seu vulto luminoso pareceu diluir-se como se fosse feito de fragmentos de aurora.
Empolgado pela maravilhosa revelação, Saulo viu-se só, sem saber como coordenar as expressões do próprio deslumbramento. Na região, que se coroava de claridades infinitas, sentiam-se vibrações de misteriosa beleza. Aos seus ouvidos continuavam chegando ecos longínquos de sublimes harmonias siderais, que pareciam traduzir mensagens de amor, oriundas de sóis distantes... Ajoelhou-se e orou! Agradeceu ao Senhor a maravilha das suas bênçãos. Daí a instantes, como se energias imponderáveis o reconduzissem ao ambiente da Terra, sentiu-se no leito rústico, improvisado entre as pedras. Incapaz de esclarecer o prodigioso fenômeno, Saulo de Tarso contemplou os céus, embevecido.
O infinito azul do firmamento não era um abismo em cujo fundo brilhavam estrelas... A seus olhos, o espaço adquiria nova significação; devia estar cheio de expressões de vida, que ao homem comum não era dado compreender. Haveria corpos celestes, como os havia terrestres. A criatura não estava abandonada, em particular, pelos poderes supremos da Criação. A bondade de Deus excedia a toda a inteligência humana. Os que se haviam libertado da carne voltavam do plano espiritual por confortar os que permaneciam a distância. Para Estevão, ele fora verdugo cruel; para Abigail, noivo ingrato. Entretanto, permitia o Senhor que ambos regressassem à paisagem caliginosa do mundo, reanimando-lhe o coração. A existência planetária alcançava novo sentido nas suas elucubrações profundas. Ninguém estaria abandonado, Os homens mais miseráveis teriam no céu quem os acompanhasse com desvelada dedicação. Por mais duras que fossem as experiências humanas, a vida, agora, assumia nova feição de harmonia e beleza eternas.
A Natureza estava calma. O luar esplendia no alto em vibrações de
encanto indefinível. De quando em quando, o vento sussurrava de leve,
espalhando mensagens misteriosas. Lufadas cariciosas acalmavam a fronte do
pensador, que se embevecia na recordação imediata de suas maravilhosas visões
do mundo invisível.
Experimentando uma paz até então desconhecida, acreditou que renascia naquele momento para uma existência muito diversa. Singular serenidade tocava-lhe o espírito. Uma compreensão diferente felicitava-o para o reinício da jornada no mundo. Guardaria o lema de Abigail, para sempre. O amor, o trabalho, a esperança e o perdão seriam seus companheiros inseparáveis. Cheio de dedicação por todos os seres, aguardaria as oportunidades que Jesus lhe concedesse, abstendo-se de provocar situações, e, nesse passo, saberia tolerar a ignorância ou a fraquezas alheias, ciente de que também ele carregava um passado condenável, que, nada obstante, merecera a compaixão do Cristo.
Emmanuel, extraído do livro Paulo e Estevão, psicografia de Chico Xavier.
Nenhum comentário:
Postar um comentário