Em cidade interiorana, havia um homem
que não se irritava, não teimava e não discutia com ninguém. Sempre encontrava
saída cordial, não feria a quem quer que fosse, nem se aborrecia com o próximo.
Morava em modesta pensão, onde era admirado e querido.
Seus companheiros combinaram-se entre eles para levá-lo à teima, à irritação ou à discussão. À noite, serviam saborosa sopa, de que o nosso amigo era apreciador.
A garçonete chegou próxima a sua mesa, pela esquerda, e ele, prontamente, levou o próprio prato para aquele lado para lhe facilitar a tarefa. Ela, ágil, serviu aos que estavam naquela mesa e dali partiu para outras direções.
Ele, calmamente e em silêncio, esperava, quando ela outra vez se aproxima, agora pela direita. Volta ele a levar o prato para direção da jovem, que, novamente, se distanciou, ignorando-o.
Após servir aos demais, para rente a ele, acintosamente, com a sopeira fumegante, exalando saboroso aroma, como quem conclui a própria tarefa e retorna à cozinha.
Nesse momento, não se ouvia qualquer ruído. Todos espreitavam discretamente, para ver-lhe a reação.
Educadamente, chama ele a garçonete, que se volta, fingindo impaciência:
- O que o Senhor deseja? - Ao que ele responde, naturalmente:
- A Senhorita não me serviu a sopa.
Novamente ela lhe retruca, agora, para provocá-lo, desmentindo-o:
- Servi, sim Senhor.
Ele olha para ela, olha para o próprio prato vazio e limpo . . . Todos pensam: vai teimar ou brigar.
Suspense e silêncio total. É quando
ele a todos surpreende, ponderando, afavelmente:
- A Senhorita serviu sim; mas eu aceito mais!
Não teimou, não se irritou, nem discutiu; e passou pelo teste; além de nos deixar bela lição de paciência!
A cólera - filha do orgulho - leva-nos a cometer crimes, a desrespeitar o próximo e a nós mesmos, pois que envenena o nosso organismo levando-o às enfermidades.
Quando nos irritamos:
- despendemos mais energia do que aquela necessária para resolver o problema que nos trouxe a cólera;
- afastamos aqueles que poderiam nos ajudar; pois temem aproximar-se e não serem compreendidos;
- atraímos péssimas companhias espirituais, cuja presença nos agravará os males;
- geramos antipatias, onde vamos. Estaremos sempre com a verdade? Convêm-nos indagar a nós mesmos;
- revelamos falta de educação, de respeito ao próximo;
- envenenamos nosso organismo com toxinas. É como se uma cobra se mordesse a si mesma;
- agimos como suicidas indiretos, tal como aquele que fuma, que bebe, que se excede em qualquer hábito.
A irritação se traduz em falta de cortesia, que afasta amigos, atrai antipatias e gera maus fluidos.
Gebaldo José de
Souza
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