A polícia chamara a velhinha presente.
Na sala de chefia, estava pouca gente,
Mas, no centro do quadro, uma jovem brilhante,
A quem a fama abrira as portas,
Levantou-se arrogante
E, apontando a senhora,
Que se vestia humildemente,
Falou ao delegado de plantão,
-Esta mulher ai de pernas tortas
Já me esgotou a paciência,
Por favor, excelência,
Exijo que ela seja repreendida,
É uma velha idiota a me arrasar a vida,
Diz ser a minha mãe, andando aqui e ali
Mas sei que minha mãe morreu quando eu nasci...
Na sala de chefia, estava pouca gente,
Mas, no centro do quadro, uma jovem brilhante,
A quem a fama abrira as portas,
Levantou-se arrogante
E, apontando a senhora,
Que se vestia humildemente,
Falou ao delegado de plantão,
-Esta mulher ai de pernas tortas
Já me esgotou a paciência,
Por favor, excelência,
Exijo que ela seja repreendida,
É uma velha idiota a me arrasar a vida,
Diz ser a minha mãe, andando aqui e ali
Mas sei que minha mãe morreu quando eu nasci...
Creio seja a mulher de muita idade
Que mora aos fundos da mansão,
Onde encontrei a minha
educação
E onde ela vive pela caridade.
Tenho um nome correto a defender,
Nos clubes, nos jornais,
Afasta-la de mim é apenas meu dever,
Quero que esta gorila
Não me chame de filha,
Nem me incomode mais.
E onde ela vive pela caridade.
Tenho um nome correto a defender,
Nos clubes, nos jornais,
Afasta-la de mim é apenas meu dever,
Quero que esta gorila
Não me chame de filha,
Nem me incomode mais.
O delegado fita a acusada infeliz,
Que se mostrava pálida e sem jeito,
E indagou a respeito:
-A senhora?... O que diz?
A velhinha informou, em tom magoado:
-Peço consentimento,
A fim de esclarecer ao senhor delegado
Que estou viúva, há mais de vinte anos...
Vivi com m
eu marido poucos dias...
Era ele pintor, lidando em grande altura,
Faleceu ao cair de uma laje insegura,
Fiquei grávida e só, recalcando agonias...
Na condição de lavadeira,
Vivo sempre reclusa
No lar que me albergou a vida inteira,
Onde nasceu a jovem que me acusa;
Ela cresceu, senhor, fez-se forte e instruída,
E agora resolveu mudar a própria vida...
Era ele pintor, lidando em grande altura,
Faleceu ao cair de uma laje insegura,
Fiquei grávida e só, recalcando agonias...
Na condição de lavadeira,
Vivo sempre reclusa
No lar que me albergou a vida inteira,
Onde nasceu a jovem que me acusa;
Ela cresceu, senhor, fez-se forte e instruída,
E agora resolveu mudar a própria vida...
A moça ap
arteou, bradando revoltada:
-É mentira, excelência...Esta velha estouvada
É um caso apenas para sanatório...
Antes, porém, que o delegado
Emitisse apressado
Qualquer conceito vexatório,
Ouviu-se o coração materno, conformado:
-Disse toda a verdade, meu senhor,
Esta filha que eu tenho é a linda estrela
De minha estrada dolorosa,
No entanto, se é feliz sem meu amor,
Aceito a acusação de mentirosa
E prometo não mais aborrece-la.
-É mentira, excelência...Esta velha estouvada
É um caso apenas para sanatório...
Antes, porém, que o delegado
Emitisse apressado
Qualquer conceito vexatório,
Ouviu-se o coração materno, conformado:
-Disse toda a verdade, meu senhor,
Esta filha que eu tenho é a linda estrela
De minha estrada dolorosa,
No entanto, se é feliz sem meu amor,
Aceito a acusação de mentirosa
E prometo não mais aborrece-la.
Ambas não mais se viram, frente a frente.
Aquela mãe sem
forças, mais doente,
Da Terra desprendeu-se, fatigada...
Mas a filha seguiu por outra estrada.
A borboleta humana embevecida
Quis desfrutar, sem pausa, os prazeres da vida...
E viveu mais dez anos, desta em festa,
De coração afoito e desatento...
Almas lesadas, luto e desalento
Seguiram-lhe, no mundo, as insensatezes funestas...
Mas a doença veio e a pobre já não era
A jovem que lembrava a primavera,
A princesa da noite e da ilusão...
Depois de angústia imensa, em longos dias,
Na mais deserta das enfermarias,
A morte situou-se noutras plagas...
Ei-la agora na vida diferente...
Sentia-se, em si própria, como em chagas;
Parecia guardar a memória doente
E, acima dos remorsos que trazia,
A dor da triste mãe que desprezara, um dia,
Punha-lhe o coração em fogo lento.
Da Terra desprendeu-se, fatigada...
Mas a filha seguiu por outra estrada.
A borboleta humana embevecida
Quis desfrutar, sem pausa, os prazeres da vida...
E viveu mais dez anos, desta em festa,
De coração afoito e desatento...
Almas lesadas, luto e desalento
Seguiram-lhe, no mundo, as insensatezes funestas...
Mas a doença veio e a pobre já não era
A jovem que lembrava a primavera,
A princesa da noite e da ilusão...
Depois de angústia imensa, em longos dias,
Na mais deserta das enfermarias,
A morte situou-se noutras plagas...
Ei-la agora na vida diferente...
Sentia-se, em si própria, como em chagas;
Parecia guardar a memória doente
E, acima dos remorsos que trazia,
A dor da triste mãe que desprezara, um dia,
Punha-lhe o coração em fogo lento.
Não mais soube contar o dia, a hora,
Porque, perante o Além, na culpa de quem chora
O tempo se transforma em sofrimento...
Meses correram sobre muitos meses,
Via-se em sombra e a sós... No entanto, algumas vezes,
Ouvia vozes perto... Era a doce lembrança
Da meninice longe, entre as bênçãos do lar...
Ternos motes de amor e canções de ninas,
Como notas de paz em brisas de esperança...
Passados alguns anos, certo dia,
Enxergou novamente o sol, a natureza...
Pranteia de emoção, embora presa
À luz, à imensa luz que lhe sorria...
Eis que alguém lhe aparece...Um anjo de visita
Ou luminoso ser de beleza infinita?
Ela chora, a sentir-se envergonhada,
Mas esse alguém lhe fala com ternura:
-Vida de minha vida, filha amada,
A dor é a grande estrada para a Altura,
Quero ver-te, de novo, nos meus braços,
Regressarás à Terra, em minha companhia,
Minha filha de alegria,
Renascerás comigo no futuro...
Filha querida, estrela de meus passos,
Buscaremos, na Terra, as fontes do amor puro...
Como sempre, serás meu sonho e meu encanto,
Filha do coração, tesouro que amo tanto!...
Mas a pobre exclamou:- Quem sois vós que falais?
Filha? Fui sempre má, não mereço este nome...
Reneguei minha mãe, o fel que me consome
É o remorso cruel que não se acaba mais...
Quem sois vós que não vedes minha dor
E nem reconheceis a angústia que me leva
A recear a luz e esconder-me na treva?...
Por quem sois, anjo ou luz, uma santa ou uma estrela,
Levai-me à mãe que eu tive, quero vê-la...
Onde está minha mãe, meu refúgio e meu guia?
Somente minha mãe me perdoaria...
Maria Dolores
Do livro Alma e Vida,
psicografia de Francisco Cândido Xavier
Fonte:
http://www.caminholuz.com.br
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