sexta-feira, 3 de outubro de 2014


 
O Problema do Destino.

A semeadura é livre, mas a colheita obri­gatória. Como orientar nossa vida no plano geral do Universo, conhecendo o fun­cionamento da Lei.
 
 
No capítulo anterior, tocamos levemente no as­sunto de uma ciência da vida como método para se alcançar êxito e ser menos infeliz, em virtude de se aprender a arte de viver sabiamente em harmonia com a Lei de Deus, seguindo com obediência a Sua Vontade. Vamos agora explicar melhor estes con­ceitos.
 
É difícil a arte de saber viver. A vida é um vaso que podemos encher com o que quisermos. Mas, a verdade é que temos querido enchê-lo de erros. Então, que podemos receber senão sofrimentos? Quan­do era moço, li livros sobre a arte de alcançar suces­so na vida. E hoje ainda se encontram livros sobre este assunto. Mas, trata-se duma ciência de superfí­cie, que se baseia na sugestão, na arte exterior de apresentar-se, de falar e convencer o próximo. Ora, isso só pode levar a um êxito parcial, momentâneo, superficial. O verdadeiro êxito na vida consiste num problema de construção de destinos, um problema complexo de longo alcance, que só se pode resolver conhecendo o funcionamento das leis profundas que regem a vida, e a posição de cada um dentro dessas leis, ou seja, o plano duma vida enqua­drada no plano geral do universo, em função de Deus. Mas, o homem não conhece nem um nem ou­tro desses dois planos. Como se pode chegar a uma orientação completa do caso particular, se não se co­nhece a Lei geral? A maioria não é dona dos aconte­cimentos da sua vida, mas é serva dirigida por eles. A vida deveria ser um trabalho orgânico, consciente, executado em profundidade, dirigido logicamente pa­ra finalidades certas, que a valorizem, dando-lhe um sentido construtivo.
 
A vida é um jogo vasto e complexo. Podemos deixá-la decorrer levianamente, mas então, ou perde­mos o nosso tempo, ou semeamos sofrimentos, come­tendo erros. E depois, as consequências terão de ser suportadas inevitavelmente por nós. Fala-se de destino e da sua fatalidade. Mas, os construtores desse destino somos nós mesmos e depois ficamos sujeitos à sua fatalidade. A nossa vida atual apre­senta-se como um fenômeno sem causas e sem efei­tos, se considerada isolada. Para ser compreendida, é preciso concebê-la em função das vidas preceden­tes que a prepararam, e das vidas futuras que a com­pletam. O presente não pode ser explicado senão como fruto do passado, das ações livremente desen­cadeadas, cujas conseqüências são agora o que cha­mamos o nosso destino. Da mesma forma que o pas­sado representa a semeadura do presente, o presente representa a semeadura dó futuro. A semeadura é livre, mas a colheita obrigatória. Verifica-se, assim, este jogo complexo de semeadura e colheita, entrela­çadas em cada momento da nossa vida.
 
Esta é a Lei de Deus e ninguém pode modificá-la. Mas dentro desta Lei somos livres para nos mo­vimentar à vontade. Assim, somos ao mesmo tempo livres e dependentes. Temos o poder de nos arruinar ou de nos salvar, como quisermos, mas não podemos alterar a Lei, e a nossa ruína ou salvação fica fatalmente sujeita às normas da Lei de Deus. Ela regula os movimentos de tudo que existe e do homem tam­bém. Conhecê-la quer dizer conhecer as regras do jogo da vida, isto é, a ciência da própria conduta, a arte de evitar os movimentos errados e fazer os certos, para fugir do dano próprio e atingir o melhor bem-estar possível. É  indiscutível a superioridade do homem que possui este conhecimento, em compara­ção com quem, na luta pela vida, não o possui. O primeiro tem muito mais probabilidades de alcançar sucesso do que o segundo. Para quem conhece a Lei geral, é possível coloca-se dentro dela na devida posição, evitando as dolorosas conseqüências duma posição errada. O homem comum acredita viver no caos, onde procura impor a própria vontade a tudo e a todos. Mas, de fato, não é assim. Esta suposição é fruto da sua ignorância. Não há vontade humana que possa dominar o poder da Lei. Esta é constituí­da, não só como norma, pela inteligência de Deus, mas também como poder, pela vontade d'Ele. Isto quer dizer que as normas são ao mesmo tempo uma força que quer que elas se realizem, uma força irresistível, viva e ativa, sempre presente em todos os tempos e lugares, da qual não é possível fugir. A Lei é boa, sábia, paciente e misericordiosa, mas é tam­bém justa, duma justiça inflexível, de modo que, quando a criatura abusa, ela se desencadeia como furacão e derruba tudo, coibindo o abuso.
 
A coisa mais importante na vida, a base de tudo, é a orientação. E a maioria vive correndo atrás das ilusões do momento, desorientada e descontrolada. Só quem conhece tudo isto pode orientar-se, inclusi­ve a respeito do seu destino e das finalidades parti­culares que lhe cabe atingir na vida atual. Pode assim evitar os atritos dolorosos contra a Lei, que atormentam os rebeldes, e subir mais facilmente, le­vado pela corrente da Lei que o ajuda, uma vez que ele quis colocar-se em obediência a ela. Quem, por ter compreendido, sabe obedecer com inteligência, conhece o caminho mais rápido e menos doloroso da salvação.
 
Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta é uma bem estranha posição para o mundo, que ainda obedece à lei animal do mais forte. Seguir a vontade de Deus não quer dizer perder a própria e tomar-se autômato. Essa obediência é um estado de abandono em Deus, em absoluta confiança, como o filho nos braços da mãe. Mas, esse abandono é ati­vo e dinâmico, como o de quem vai atrás de um guia sábio e bom que o defende e lhe garante o êxito, desde que o seguidor queira obedecer com boa vontade, sinceridade e fidelidade. É  o abandono do operário, consciente da sabedoria do patrão que manda, mas a quem, para sua própria vantagem, convém obede­cer, acompanhando e colaborando. Ninguém pode negar as vantagens de trabalhar juntamente com Deus, apegado ao Todo-Poderoso. Esta é uma posi­ção de vantagem que fornece a criatura poderes, os quais não pode atingir quem caminha sozinho, dirigido apenas pela sua própria vontade e inteligência.
 
Se soubermos aprender esta arte de viver em har­monia com Deus, a nossa existência se deslocará do plano da injustiça e da força em que vive o homem, ao plano da justiça e da bondade em que tudo fun­ciona com princípios diferentes. Trata-se de substi­tuir o instinto de domínio do nosso eu individual, que vai até à revolta contra Deus, pelo desejo de concor­dar com a Sua vontade, num estado que, em vez de ser de separação, representada pela nossa debilida­de, será, ao contrário, de união, que constitui a nossa fortaleza. Então, a vida se tornará outra coisa para nós. Ela não será jamais dirigida pelo princípio da força e do engano, que levam ao esmagamento e a desilusão, mas, será antes dirigida pelo princípio da justiça e da sinceridade, que reconhece o nosso di­reito a tudo de que necessitamos para viver, de acor­do com o nosso merecimento. São dois princípios ab­solutamente diferentes. Cabe a nos, conforme os nos­sos pensamentos e conduta, pertencer a um ou outro desses dois planos, e por conseguinte ser regidos por princípios bem diferentes, muito menos duros e dolo­rosos no segundo caso. Este é um problema absolu­tamente individual, de escolha e resultados indivi­duais, independente da maneira boa ou má como os querem resolver os outros. Não importa se o mundo não quer transformar-se, preferindo o contrário. Ca­da um pode transformar-se e salvar-se por sua conta. Cada um constrói o seu próprio destino. É lógico que Deus seja justo, e é justo que as conseqüências ad­vindas do nosso comportamento sejam o efeito de causas engendradas por nós mesmos. De acordo com o mundo atual, as qualidades mais úteis para vencer são a força e a astúcia. Isso cria um estado de luta de todos contra todos, sem repouso. Esse contínuo estado de guerra é uma dura, mas merecida conde­nação, devida a psicologia de revolta que domina na Terra. Pelo contrário, naquele mais alto nível de vida, a qualidade mais útil é a boa vontade de obe­decer a Deus e à Sua Lei, merecendo assim, confor­me a justiça, a Sua ajuda. Acontece desse modo um fato incompreensível para a mentalidade do mundo: quando a merecemos, esta ajuda chega por si mes­ma, não nos pedindo coisa alguma sequer em troca. O resultado é maravilhoso e inacreditável para o nosso mundo: a nossa vida passa a ser garantida, e tudo é providenciado de maneira a não nos faltar nada. Mas, isso pode verificar-se somente quando o tivermos merecido, cumprindo o nosso dever perante a Lei, vivendo conforme a vontade de Deus.
 
Surge então uma coisa que o mundo não acredi­ta seja possível: para chegar a possuir o de que pre­cisamos e para alcançar sucesso não é necessário força ou astúcia. Basta tê-lo merecido, como a justi­ça o exige. Aqui não é o prepotente ou o astuto quem vence, mas o homem justo que cumpre o seu dever. Somos, num nível de vida mais evoluído, regidos por um princípio mais alto. Trata-se de um nível ao qual pertencem os indivíduos mais amadurecidos.
 
O incrível é que vemos funciona nesse novo mundo a Divina Providência. Ela funciona de verda­de, mas, é lógico, só para quem o merece. É lógico que ela não funcione para quem não o merece. Quando o tivermos merecido, podemos ter a certeza de que se verificará para nos esse milagre da Divina Providência, que nada nos deixará faltar do que pre­cisarmos, seja para a alma, seja para o corpo. Em geral não se acredita que isto possa acontecer de ver­dade, porque de fato é muito raro que aconteça, por­que é raro também que o mereçamos. O mundo está cheio de necessidades porque está cheio de cobiça. A causa da necessidade é a cobiça. Quem semeia insaciabilidade, tem de recolher fome; quem furta, tirando dos outros o que não ganhou honestamente com o seu trabalho, terá de viver na miséria, até que aprenda, à sua custa, a lição da honestidade. Para reconstituir o equilíbrio da Lei, surge a privação correspondente ao nosso abuso. Paga-se caro esse abuso, mas o mundo parece ignorar uma lei tão simples. Somos livres, mas responsáveis. E o seremos tanto mais, quanto mais possuirmos em riqueza e poderes, pelo bom ou mau uso que deles fizermos. Te­remos sempre de prestar contas à Lei. A mesma Lei poderá tirar-nos tudo, deixando-nos na penúria se pelo mau uso de poder ou fortuna, o houvermos merecido.
 
O próprio Sermão da Montanha, de Cristo, se ba­seia nesse princípio. Mas quem o toma a sério? É por isso que vemos tanta pobreza no mundo. Deus não criou a pobreza, mas foi o homem que a criou com a sua desobediência a Lei. Deus não ficou esperando até agora, para que o socialismo descobrisse o pro­blema da justiça social. A Justiça da Lei, completa e perfeita, sempre funcionou. Quem tem olhos para ver, fica horrorizado, ao considerar, a leviandade do mundo, que está brincando com forças terríveis, con­denando-se a sofrer as conseqüências. É assim que vemos tantas humilhações para os que foram orgu­lhosos, tanta necessidade onde houve desperdício no supérfluo, constrangimento à obediência onde houve poder demais e mau uso das posições de domínio.
 
O mundo é ainda tão ingênuo que acredita que basta apossar-se de uma coisa, de qualquer manei­ra, para que tenha o direito de possuí-la. E não sabe que tudo o que possuirmos sem justiça  por não o ter ganho com merecimento, e por não ter querido fazer dele bom uso - tudo isso é gasto, consumido, corroído interiormente por esta falta de justiça que mais cedo ou mais tarde não pode deixar de condu­zir ao fracasso. A riqueza mal construída é coisa po­dre e envenenada, que não pode dar senão frutos da mesma natureza para quem a possui. Acabará, assim, numa traição, como é justo que aconteça. No fundo das coisas não existe o que aparece na sua superfície; ali reina de fato a justiça de Deus, não im­portando que o homem não queira dela tomar conhe­cimento. Ela fica funcionando da mesma forma. Pos­suir o mundo inteiro, quando esta posse estiver fora da justiça, não oferece segurança alguma. Acima de todos os poderes humanos existe esse poder maior, que é a justiça da Lei. Lembremo-nos de que a vida é uma força inteligente que só defende os que são úteis à sua conservação e desenvolvimento.
 
A conclusão desta palestra é que a Divina Provi­dência existe de verdade e funciona. Mas, para isso é necessário saber fazê-la funcionar, acionando as alavancas que a movimentam e às quais ela obede­ce. Veremos depois quais são estas alavancas. O fato é que ela funciona, a nosso favor, se o merecer­mos. Observei isso, controlando e experimentando, durante toda a minha vida, e sei que é verdade. O que tivermos merecido com as nossas obras, não é valor que fica espalhado ao acaso, aonde podem chegar os ladrões, mas está regular e ordenadamente guardado no banco do Céu, donde nada se pode furtar. Este é o único emprego verdadeiramen­te seguro dos nossos capitais. Esta é a maneira ver­dadeiramente inteligente de fazer negócios. A Divi­na Providência não é um milagre, mas lei natural de um plano de vida mais alto, em que vigora uma jus­tiça que não atraiçoa. Ali não existe engano e não se pode enganar. Esta Providência é um princípio que pode funcionar para todos aqueles que se encontram na posição devida, de maneira a serem por Ela alcançados. Deus está presente para proteger a todos; mas, o benefício dessa proteção é natural e justo só o recebam aqueles que compreenderam a necessidade de obedecer à Sua Lei.
 
Extraído do livro A Lei de Deus.
De Pietro Ubaldi

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