AUTOSSUPERAÇÃO.
O egoísmo é filho espúrio do atraso moral da
criatura humana, responsável por incontáveis danos que dificultam a sua
ascensão espiritual no rumo da sua destinação plena. Ao mesmo tempo é genitor
do orgulho que se veste de prepotência para criar embaraços a todos quantos não
se lhe curvam à infantil presunção, efeito natural da imaturidade psicológica.
Não apenas contribui para os conflitos entre os indivíduos como gera
sentimentos de belicosidade, produzindo perturbações lamentáveis, que poderiam
ser evitadas.
Ao mesmo tempo, é responsável pelo vírus do
ciúme que conduz à revolta e torpedeia as florações da beleza e do bem, que lhe
não dizem respeito, causando-lhe contínuo mal-estar. Instável, porque é
inseguro emocionalmente, favorece a intriga nos arraias onde predomina,
ampliando o quadro morboso dos relacionamentos doentios e perversos.
Quando o ser humano despertar realmente para a
sua realidade de espírito imortal que é, esforçar-se-á com todo o empenho para
diminuir os miasmas doentios, autossuperando-se. Quando o egoísmo domina a
pessoa, embora seja portadora de bons propósitos, deixa-a sempre armada contra
todos, considerando os demais como inamistosos e vendo-os como competidores,
adversários, vigias do seu comportamento, sofrendo e produzindo amarguras
naqueles que lhes experimentam as tenazes do rancor.
O egoísmo individual fomenta o de natureza
coletiva, abrindo espaço para as graves e infelizes condutas preconceituosas,
por considerar tudo quanto não é resultado do seu labor como de natureza
inferior. Aí proliferam as aversões a etnias, religiões, partidos políticos,
filosofias, comportamentos sexuais e tantos outros, responsáveis por
calamidades morais inomináveis.
Na raiz dos conflitos psicológicos sempre estão
unidos o egoísmo com máscara disfarçando-se e a culpa defluente da forma de
viver e relacionar-se com as demais pessoas e com a vida.
O ser humano, porém, avança, inevitavelmente,
do instinto para a razão, dessa para a intuição, para a angelitude, o que
significa sair da ignorância, da treva do obscurantismo para a luz do
conhecimento, para a conquista da sabedoria na qual se fundem o intelecto com o
sentimento.
O egoísta sabe justificar-se e está sempre em
cautela, equipado de argumentos que lhe escamoteiam as emoções servis,
cobrindo-se de direitos que não concede a seu próximo. Esse insensível inimigo
do progresso espiritual do ser humano é contraditório e selvagem.
Ao ser identificado, porém, começa a perder o
seu predomínio sobre sua vítima, sendo diluído pelo esforço do bem a todos
devem aspirar, afadigando-se por consegui-lo.
Os antídotos para o egoísmo são o altruísmo, a
aspiração pelo bom, pelo belo, pelo amor em toda a sua plenitude. Cabe ao ser
humano manter a vigilância constante contra esse mal que predomina na natureza.
Pequenos hábitos mentais em torno da reflexão
de pensamentos edificantes constituem eficazes métodos para a superação desse
adversário insano, que o acompanha desde há muitos milênios e deve ser deixado
à margem.
O silêncio sem revolta ante acontecimentos que
aparentemente ferem o ego proporciona eficiente recurso para ver do ponto de
vista do outro a ocorrência agradável ou não.
O esforço por facultar ao próximo o direito de
comportar-se conforme lhe apraz, mesmo quando não se lhe submete às exigências
é de salutar importância.
Considerar que tudo no mundo é transitório (o
poder, a glória, a saúde, a fortuna, a beleza, assim como a doença, o degredo,
a feiura, o insucesso, a escravidão) constitui segura terapia para a doença
virótica que é o egoísmo.
À medida que se dilatam os sentimentos de
ternura em relação aos demais, de compaixão pelos infelizes, de compreensão
fraternal para com todos, as correntes férreas do egoísmo arrebentam-se e a sua
vítima experimenta especial, peculiar alegria de viver e de servir.
Preenche os vazios existenciais com ricos objetivos
emocionais que dão sentido à vida, constituindo estímulos contínuos para o
bem-estar, para alegria sem jaça.
Já não importam os aplausos e as veleidades
antes exigidas por haverem perdido o seu significado emocional egóico.
Igualmente, os comentários ácidos e as censuras injustificadas não encontram
guarida nos seus sentimentos pela ausência total de presunção, considerando que
todos experimentam as mesmas ou parecidas circunstâncias, dissabores,
realizações, importando a meta a ser alcançada e não os impedimentos que lhe
surgem à frente.
Quem se detém ante obstáculos imaginários nunca
atinge o objetivo da existência. Realmente fazem-se valiosos a amizade
espontânea que recebe, o sorriso fraterno que lhe é dirigido, a palavra gentil
que se lhe endereça.
A gentileza reponta na emoção e amplia sua
área, sobrepondo-se à pompa de bolha de sabão da vaidade egotista e sem
sentido.
Nesse maravilhoso desenvolvimento ético-moral e
de transcendência emocional, a real alegria de viver predomina ao lado da
legítima ação da benevolência e da caridade.
Não dês trégua a esse adversário da harmonia
humana. Vigia as nascentes do coração e conseguirás impedir-lhe o surgimento ou
a sua manutenção.
Mas se tiverdes dificuldade na experiência
íntima e pessoal busca o auxílio da oração, entregando-te a Deus e por Ele
deixando-te conduzir.
Francisco de Assis, o iluminado da Úmbria,
compreendeu a necessidade de vencer o atavismo egoístico na sua Oração simples
em todos os postulados e, especialmente, quando exarou em um dos delicados
tópicos: Que em console mais do que seja consolado. Reconhecia o cantor de Deus
que é servindo e renunciando-se a si mesmo que se pode fruir de plenitude.
Desse modo, ante o egoísmo sandeu, outra
atitude não existe senão o imediato esforço pela autossuperação, buscando mais
consolar do que ser consolado.
JOANNA DE ÂNGELIS.
Fonte: Texto retirado da publicação do Tablóide “Maringa
Espírita” 03/02/13, pgs 04 e 05, “Coluna Joanna de Ângelis”. Página
psicografada por Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 28 de
novembro de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção em Salvador, Bahia.
Agradecimentos a Dom José Ricardo Rodriguez y Rodriguez.
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