segunda-feira, 28 de março de 2011

Fidelidade a Jesus


Fidelidade a Jesus

Meus filhos:

As raízes do pensamento cristão encontram-se fortemente fixadas nos exemplos do Mestre, que lhe confirmaram todos os ensinamentos.

Desenvolvendo-se no solo ubérrimo do sacrifício, estiveram irrigadas com as chuvas da abnegação e da fidelidade aos postulados enunciados, desenvolvendo a árvore evangélica mediante o adubo do holocausto de todos aqueles que se deixaram arrebatar pela revolução moral transformadora, que se iniciara nas paragens bucólicas da Galiléia, nos memoráveis dias do Seu ministério.

Todos quantos se permitiram impregnar pelas incomparáveis lições, superaram os limites da carne transitória, oferecendo-se ao testemunho com a própria vida física, que não temiam perder, por estarem seguros da realidade do mundo espiritual.

Convictos da Ressurreição deixaram-se sacrificar, porquanto sabiam que a imortalidade os aguardava, coroando-os de paz.

Seguindo-Lhe o exemplo de amor e abnegação, Estevão deixou-se destroçar pelas pedras que Saulo desencadeara contra ele, iniciando a Era do martirológio, seguido por Tiago, que foi decapitado, e pelos demais companheiros, que provaram da morte, a fim de encontrarem a Vida, incluindo Pedro, crucificado, e Paulo, tendo a cabeça decepada por certeiros golpes de uma espada.

E depois deles, mais de um milhão de criaturas se entregaram sem resistência às feras nos circos, às fogueiras, aos linchamentos, aos exílios hediondos, aos trucidamentos e crucificações, sem uma queixa ou arrependimento mínimo que fosse.

Seus exemplos de fé e de coragem levantaram multidões que os seguiram, apaixonadas e confiantes, enquanto o poder imperial e a selvageria humana os perseguiam de maneira inclemente.

A pouco e pouco, porém, o poder do amor fez tremer a força do poder cruel e as conversões alteraram o rumo da História da Humanidade.

Após a vitória sobre Maxêncio, nas Rochas Vermelhas, junto à ponte Mílvia, no dia 28 de outubro de 312, Constantino, conforme diz a tradição, que tivera a visão de uma cruz luminosa, na qual estava escrito In hoc signo vinces! (Com este sinal vencerás!) deixou-se arrebatar, colocando nos seus estandartes aquele sinal que o estimulou e aos seus soldados à conquista do adversário reconhecidamente mais forte, e que morreu afogado, promulgando o Edito de Milão, no dia 13 de junho de 313, facultando que a doutrina cristã fosse exercida livremente em todo o Império.

Se, a vitória, de alguma forma, significou abertura para maior desdobramento do ideal cristão, representou, também, um momento grave para as decisões dos futuros crentes, que passaram a incentivar a ostentação herdada do paganismo, o culto exterior e a ritualística remanescente das velhas crenças que ora se faziam substituir.

Logo depois, Euzébio lamentaria essa ocorrência, recordando que, à medida que o martírio diminuía, a qualidade da fé deteriorava, em razão da debilidade de conduta dos novos crentes.

Prosseguindo na identificação com o Estado, em 380 o Imperador Teodósio, que se encontrava enfermo em Tessalônica, fez-se batizar, defendendo os católicos contra os arianos e contra os pagãos, tornando público o Edito (de Tessalônica), através do qual o Cristianismo se transformava em religião do Estado, após instalar S. Gregório Nazianzeno na Sé episcopal de Constantinopla.

Mais tarde, durante a governança do império romano do Oriente, Justiniano, o Grande, com a anuência dúbia do Papa Virgílio, convocou o II Concílio de Constantinopla, no qual, mediante ardilosa conspiração, conseguiu tornar heréticas as doutrinas de Orígenes, que professava a reencarnação, retirando-a da teologia que esposava, no ano de 553, mediante eleição ignóbil que venceu por 3 a 2 votos.

A imensa noite medieval encarregou-se de sombrear a Mensagem, clara e pura, com as paixões mundanas e os vícios que se espalharam por toda parte, dificultando que Santos e Místicos pudessem deter a imensa onda de desalinho moral e social.

Surgiram então, em nome dAquele que é todo amor e perdão, as hediondas Cruzadas, a Santa Inquisição, os dogmas ultramontanos, a hediondez e o horror nas fileiras da religião.

A misericórdia de Deus, no entanto, atendendo aos apelos de Jesus, fez que renascessem na Terra Francisco de Assis, Teresa dÁvila, João da Cruz, Pedro de Alcântara, Joana dArc, entre outros, sensibilizando os indivíduos, enquanto diversos mais, como John Wyclif, Jan Huss, Jerônimo de Praga, Martinho Lutero, João Calvino, Huldrych Zwingli. Libertaram o pensamento, a fé religiosa, a cultura, preparadores que se fizeram da restauração, que caberia a Allan Kardec realizar, em 1857, quando da publicação de “O Livro dos Espíritos”, inaugurando a época da fé raciocinada, que arrancou o Evangelho das peias da ignorância e da superstição ante a claridade diamantina do pensamento científico e filosófico que lhe veio em apoio incondicional.

O Espiritismo é Jesus novamente de retorno ao coração humano com os braços distendidos, oferecendo oportunidade de refazimento e de iluminação com os olhos postos na felicidade futura que cada qual busca.

Não obstante tantos séculos de sacrifícios e lutas, de decadência e renovação, chegando o Consolador, novos embates incendeiam as mentes e os sentimentos se esfacelam em lutas inesperadas, que repetem os torvos embates do passado, tentando diminuir a grandeza do Evangelho, tido por muitos estudiosos como de secundária ou nenhuma importância para a sociedade hodierna, embora a relevante significação que lhe foi concedida pelo eminente Codificador do Espiritismo, que o publicou mediante a visão espírita em 1864, tornando-o um dos pilotis da Doutrina.

Fixados nos desmandos do pretérito, os homens permanecem repetindo as experiências infelizes, mesmo no campo da fé religiosa, de que se desejam libertar, sem que se alcem aos patamares elevados do amor e da caridade para consigo mesmos e para com o seu próximo. Quase vinte séculos depois do Mártir da Cruz, e a Sua palavra continua sofrendo diatribes de muitos que dizem servi-lO como de outros tantos que O detestam e se entregam a duelos inglórios, que mais os martirizam do que os libertam.

Não poucos daqueles que se consideram Seus discípulos pensam apenas em honrarias e destaques, em identificação com os postos de comando no mundo, nos campeonatos do verbalismo insensato, agredindo-se e atacando aos demais, sem que hajam despertado para o significado profundo destes momentos de dores e incertezas que pairam sobre o planeta que lhes serve de domicílio temporário.

A Sua voz continua conclamando-nos a todos ao amor ao próximo como a nós mesmos, que se converterá em ação de caridade iluminativa e libertadora direcionada àqueles que sofrem e se debatem na ignorância da sua realidade, exigindo sacrifícios e renúncias, qual ocorreu naqueles pretéritos dias de martírio e solidariedade.

E porque a Seara continua grande, todos os esforços devem ser envidados, a fim de que a Sua luz alcance os Espíritos em aturdimento, e o Seu conforto, rico de esperança, penetre os corações que ainda se encontram à margem como excluídos no mundo, e que estão esperando.

Não há outra alternativa nestes dias, senão servir e servir com devotamento.

Este é o instante anelado por todos que O amamos.

Ele espera que nos desobriguemos do compromisso de caridade que assumimos perante a própria e a Consciência Cósmica.

Impossível o repouso nesta hora grave em quaisquer sítios de plenitude, que por acaso nos esperem.

A nossa honra é o desafio de prosseguir sem descanso, enquanto a dor humilhe e descoroçoe as criaturas que se encontram em nosso caminho, tornando-nos, ao menos, pirilampos na noite escura, ensaiando claridade para que possam seguir com segurança.

Estamos convidados para a contínua tarefa de amar e passar despercebidos, construindo a sociedade melhor e mais fraterna que Ele iniciou e a nossa imprevidência vem impedindo de estabelecer-se na Terra.

Fixar o pensamento em Jesus e trilhar pelas diretrizes espíritas conforme Allan Kardec no-las ofereceu é o dever desta hora, que nenhum de nós, espíritas, encarnados ou desencarnados, pode desconsiderar.

Trabalhar, portanto, vencendo o tempo no calendário terrestre, é a distinção que nos cabe, até que as paisagens humanas estejam modificadas e o querido Planeta se converta em mundo de regeneração, conforme anunciado pelos Prepostos de Jesus, que O vieram trazer de volta através do Espiritismo.

Augurando-vos êxito na luta sem quartel da fraternidade e do amor ao próximo, abraça-vos o servidor humílimo e paternal de sempre,

BEZERRA

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(Página psicofônica recebida pelo médium Divaldo P. Franco, na reunião mediúnica da noite de 12 de janeiro de 2000, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
Revista “Reformador” nº 2055- junho/2000- págs 24-26- FEB

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